Sindicato dos Enfermeiros Portugueses acusa Governo de desorientação

25 de Novembro 2021

O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) acusou esta quinta-feira o Governo de desorientação na gestão da pandemia de Covid-19, criticando a desativação de centros de vacinação e o “recuo na contratação” de profissionais.

“Após dois anos de pandemia, os decisores políticos parecem ter aprendido muito pouco. Não há resiliência que aguente tanta desorientação”, escreveu o SEP em comunicado, sublinhando que cientistas e profissionais de saúde “desde cedo” alertaram para a probabilidade de aumento de casos de Covid-19 com o levantamento das restrições, a incidência da gripe sazonal e a necessidade de retomar a atividade programada no Sistema Nacional de Saúde.

De acordo com o SEP, no Algarve, a decisão de encerrar centros de vacinação remeteu os utentes para “espaços confinados e/ou sem condições de atendimento”, como foi o caso de São Brás, Faro, Tavira e Portimão, em que as pessoas esperam em pé “ao sol, à chuva e sem distância de segurança”.

“Não obstante, a “loucura” de impor metas/dia de pessoas vacinadas e sem que haja reforço de pessoal, determina o prolongamento do dia de trabalho, por vezes com alterações de horário no dia anterior ou no próprio dia”, lamentou o SEP, afirmando que dois enfermeiros “chegam a vacinar 300 pessoas, sem saberem a que horas vão finalizar”.

Os enfermeiros queixam-se de “incontáveis horas (de vida) extraordinárias” há quase dois anos, em que muitos chegam a trabalhar 60 horas semanais e duas semanas sem folgar.

“Paralelamente, continuamos a assistir à emanação de orientações contraditórias quase diárias relativamente à vacinação”, criticou o SEP.

Segundo a estrutura sindical, há casos em que havendo vacinas da gripe disponíveis nos centros de saúde, mas estando os enfermeiros impedidos de vacinar alguns grupos etários, “chega a ser ridículo os utentes terem de comprar a mesma vacina na farmácia para logo ser administrada no Centro de Saúde”.

O SEP referiu também no documento que a ARS do Algarve “ao invés de pagar as horas efetuadas, em acumulação, ao abrigo de uma legislação recente”, apresentou propostas de contratos de mobilidade com valores inferiores, a enfermeiros do Centro Hospitalar Universitário do Algarve que se disponibilizaram para vacinar.

“Neste quadro, ainda vem a ministra da Saúde pôr em causa a resiliência dos profissionais?”, questionou o SEP, exigindo respeito, consideração e valorização do trabalho prestado.

Também a Ordem dos Médicos se pronunciou hoje contra a ministra da Saúde, Marta Temido, considerando que fez declarações “inqualificáveis” sobre a solução para a falta de médicos.

“Perdeu toda a credibilidade” e os clínicos saberão dar resposta à “atitude totalmente inaceitável”, considerou a estrutura representativa dos médicos.

Marta Temido, disse na quarta-feira numa audição na comissão parlamentar de Saúde que é preciso pensar “nas expectativas e na seleção destes profissionais”.

“Também é bom que todos nós, enquanto sociedade, e isto envolve várias áreas, pensemos nas expectativas e na seleção destes profissionais, porque porventura outros aspetos como a resiliência, são aspetos tão importantes como a sua competência técnica. Estas são profissões, de facto, que exigem uma grande capacidade de resistência, de enfrentar a pressão e o desgaste e temos que investir nisso”, afirmou a ministra.

Portugal registou hoje mais 3.150 novos casos de infeção pelo coronavírus SARS-CoV-2 e 15 mortes associadas à Covid-19, além de um novo aumento do número de internados em enfermaria, segundo dados oficiais.

LUSA/HN

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