Em declarações à agência Lusa, o coordenador da associação para a defesa dos direitos dos imigrantes – Solidariedade Imigrante (Solim) salientou que estas pessoas, e dentro delas as mulheres, são “os excluídos dos excluídos da sociedade” e que, por isso, “foram bastante afetados pela pandemia”.
“Nesta situação, os imigrantes saíram à procura de melhores condições de vida, saíram à procura de trabalho, o pão nosso de cada dia, foi o que as pessoas fizeram. Foram para outros países da Europa, aqueles que foram afetados pela situação de pandemia, ganhar, trabalhar e remediar a situação”, apontou Timóteo Macedo.
No entanto, segundo o responsável, a situação está agora a alterar-se e diz haver quem esteja a regressar, ao mesmo tempo que continua a haver quem venha pela primeira vez, com a diferença de serem provenientes de “outras paragens que Portugal não estava habituado”.
Segundo Timóteo Macedo, há agora muitos imigrantes da África francófona, como a Gâmbia, Senegal ou outros países limítrofes, como o Mali, que estão a trabalhar na agricultura, por exemplo.
Opinião semelhante tem a presidente e fundadora da Associação de Imigrantes Mundo Feliz, Cecília Minascurta, segundo a qual há registo de novos fluxos de migrantes, ainda que não tão grandes como há dois anos.
Segundo Cecília Minascurta, estas pessoas têm encontrado trabalho nos setores da limpeza, restauração, hotelaria, mas também no cuidado de idosos ou condução de pesados.
Analisando a situação desde o início da pandemia, e como possíveis causas para a falta de mão de obra relatada recentemente por alguns setores de atividade, a responsável admite que alguns imigrantes tenham regressado aos seus países de origem, outros imigraram para outros e houve ainda quem tenha encontrado outros trabalhos.
“Sei de muita gente que saiu da hotelaria e foi para a Uber, por exemplo”, apontou, lembrando que a restauração foi dos primeiros setores a fechar e deixou muita gente no desemprego.
Por outro lado, disse ter conhecimento de quem tenha regressado ao país de origem, dando como exemplo o caso de cidadãos brasileiros que com a pandemia deixaram de ter meios de subsistência.
Timóteo Macedo sublinhou, a propósito, que durante a pandemia foram e têm sido os imigrantes a manter o funcionamento do setor agrícola e “os primeiros da frente de combate a dar a cara e a sofrer as consequências da pandemia”, ao mesmo tempo que foram tratados como “pau para toda a obra”.
“Usaram e abusaram desta mão de obra que está disponível e precisa muito de trabalhar para ter título de residência ou ter documentos ou ter acesso ao reagrupamento familiar”, criticou, sublinhando que as restrições sanitárias não foram para todas as pessoas de igual modo porque os imigrantes tinham de trabalhar para manter a situação documental e “alimentar a família”.
Sobre a razão por que continua a haver migrantes que escolhem Portugal trabalhar, Timóteo Macedo aponta o facto de o país precisar deles e de continuar a haver muitos setores de atividade com necessidade desta mão de obra.
De acordo com o coordenador da Solim, não só Portugal tem bastante trabalho disponível como “precisa de muitos mais imigrantes” e adiantou que há empresas nacionais que já estão a contratar trabalhadores em países como a Tailândia para a restauração e a hotelaria, dando como exemplo o Algarve.
A presidente da associação Mundo Feliz refere que também no setor da construção há falta de mão de obra e que tem recebido por parte de empresas pedidos de trabalhadores, mas que efetivamente há falta de quem queira trabalhar nesta área.
Ainda assim, Cecília Minascurta assegura que Portugal se mantém um país atrativo para os imigrantes, destacando que o processo de legalização continua a ser “um pouco mais fácil do que noutros países”, com a esperança de aqui encontrar uma vida melhor.
Já no que diz respeito às condições de trabalho, o coordenador da Solim assegura que se mantêm iguais às que existiam antes do começo da pandemia, de grande precariedade e baixos salários, agravada por condições de habitação pouco dignas e que não conseguem fazer face às necessidades básicas.
“É uma situação muito difícil, de grande precariedade. O trabalho é precário, de baixos salários, as condições de higiene e saúde no trabalho são más, cada vez há mais acidentes. São pessoas exploradas e sobre-exploradas”, descreveu.
Cecília Minascurta acrescentou que o valor médio das rendas é um problema, sublinhando que os imigrantes não conseguem muitas das vezes um salário que lhes permita fazer face a essa despesa e lembrando que muitos senhorios exigem três meses de caução à entrada.
Na opinião da presidente da Casa do Brasil em Lisboa a pandemia tornou muito evidente “o quanto as pessoas imigrantes são exploradas nos serviços”, desde a restauração, hotelaria, construção civil ou agricultura.
“As condições de trabalho são de facto muito precárias, quando têm contrato de trabalho é uma sorte, muitos trabalham até sem contrato de trabalho e estão na mão das empresas e quando têm contrato de trabalho é com salário mínimo”, apontou Cyntia de Paulo.
No entanto, a associação continua a receber pedidos de apoio por parte de recém-chegados a Portugal, alguns que tinham suspendido os processos migratórios por causa da pandemia e que agora retomam esse projeto.
“Os meus colegas do atendimento estão com a agenda superlotada, não estão mesmo a dar conta da necessidade real, precisaríamos duplicar a capacidade para informação, para apoiar as pessoas”, revelou Cyntia de Paulo, acrescentando que a perceção é a de que “houve um aumento significativo” de imigrantes brasileiros a procurar Portugal para trabalhar.
A responsável admite que com a pandemia tenha havido uma parte “significativa” dos imigrantes brasileiros a regressar ao país de origem, mas diz não saber se terá sido maior do que o número de entradas recentes, apontando que esse fenómeno não pode ser analisado para já.
Acredita ainda que a falta de mão de obra sentida em muitos setores atualmente possa ser explicada com o facto de as pessoas terem migrado para outros setores, mais qualificados e mais bem pagos.
LUSA/HN
0 Comments