Para Manuel Ferreira de Magalhães, pediatra da Unidade de Pneumologia Pediátrica do Centro Materno-Infantil do Norte, esta é uma forma natural e eficaz de quebrar o círculo vicioso das típicas doenças de inverno, que leva, muitas vezes, ao uso recorrente de antibióticos.
Apesar de não existirem tratamentos específicos para as infeções respiratórias víricas, o médico do Centro Hospitalar e Universitário do Porto e professor do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar indica que “surgiram nos últimos anos estratégias inovadoras de modelação das bactérias boas do corpo com a utilização de probióticos, parando o círculo vicioso de múltiplas infeções respiratórias”.
“Estes probióticos são, neste momento, o presente e o futuro da prevenção das doenças respiratórias víricas nas crianças”, sublinha.
Vários estudos validam a utilização de probióticos em recém-nascidos, bebés, crianças e adolescentes, principalmente na redução do número de infeções respiratórias, otites e dias que as crianças estão doentes durante o inverno e que faltam às aulas, ao mesmo tempo que levam a uma menor utilização de antibióticos.
De acordo com o especialista em doenças respiratórias pediátricas, os dois probióticos mais estudados para proteger as crianças destas infeções respiratórias são o Lactobacillus rhamnosus GG e o Bifidobacterium lactis. “Especificamente em lactentes, num ensaio clínico publicado em 2011, verificou-se que a suplementação com B. lactis reduziu significativamente (-31%) a ocorrência de infeções respiratórias agudas”, diz o médico.
Em 2014, um estudo verificou uma redução na infeção por rinovírus em recém-nascidos prematuros que foram suplementados com L. rhamnosus GG (-50%).
Num ensaio clínico publicado em 2012 verificou-se que as pessoas suplementadas com B. lactis durante seis semanas tiveram uma melhoria na resposta de defesa imune (+65%) quando contactaram com o vírus da gripe (influenza).
Já um ensaio clínico publicado em 2013 mostrou que a suplementação de jovens universitários com B. lactis + Lactobacillus rhamnosus reduziu de forma significativa a duração (-2 dias) e a gravidade (-34%) das infeções respiratórias superiores.
“O outono-inverno é uma altura do ano caracterizada por um ambiente frio e húmido, condições estas que são perfeitas para a multiplicação e transmissão dos vírus respiratórios. Em Portugal, entre outubro e março, os vírus aproveitam-se destas condições climatéricas e criam um verdadeiro exército patogénico”, explica o médico.
Por outro lado, “as famílias frequentam mais espaços fechados, aumentando a propagação das doenças respiratórias infeciosas”, e “os infantários, as creches e as escolas têm exatamente estas condições necessárias para uma maior propagação destas infeções”.
A razão para um grande aumento das infeções respiratórias baseia-se num ciclo que começa com a diminuição das temperaturas e o aumento da humidade – condições ideais para a multiplicação e sobrevivência vírica, e que levam muitas pessoas a procurar espaços fechados e quentes. “Os vírus vão multiplicar-se com maior intensidade, alojando-se nas gotículas em suspensão nos espaços fechados e quentes”, segundo o médico. A humidade nos vidros interiores das janelas é a parte visível deste fenómeno de condensação, e as pessoas que convivem nesses espaços acabam por inalar estas gotículas. O pneumologista pediátrico alerta que “uma só pessoa tem a capacidade de infetar muitas pessoas” e que as “crianças são o grupo etário mais suscetível a sofrer destas infeções”.
As infeções respiratórias agudas víricas criam condições ideais para o crescimento de “bactérias más”, sendo que “estas infeções bacterianas podem originar mais complicações e obrigam, com frequência, ao uso de antibióticos”.
Ainda segundo o especialista, “as crianças mais pequenas têm tendência a fazer muitas otites bacterianas devido à facilidade com que as secreções se acumulam dentro do ouvido, aumentando o crescimento de bactérias que infetam o próprio ouvido”. Ou seja, “esta desregulação das bactérias boas e más (disbiose) que habitam as vias aéreas de uma criança faz com que as infeções respiratórias se perpetuem e se repitam vezes sem conta, num círculo vicioso”.
O pediatra conclui que a suplementação poderá ter um importante papel na prevenção das infeções respiratórias agudas, sobretudo nos grupos etários mais jovens e/ou imunologicamente mais suscetíveis às infeções virais e bacterianas.
PR/HN/Rita Antunes
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