“Do ponto de vista sindical, nunca fiz tantas cartas de despedimento de trabalhadores como fiz durante este ano de 2021 e esta situação deveu-se ao facto de as pessoas já não aguentarem mais a pressão a que estavam sujeitas”, afirmou o dirigente sindical Vítor Silva, numa conferência de imprensa conjunta da USAH e do Sindicato das Indústrias Transformadoras, Alimentação, Comércio e Escritórios, Hotelaria e Turismo (SITACEHT) dos Açores, em Angra do Heroísmo.
Segundo o coordenador da USAH, apesar da pandemia de covid-19, em alguns setores, como a indústria conserveira ou o comércio, houve um “aumento da atividade”, que não se traduziu num reforço de trabalhadores, nem em aumentos salariais.
“Este aumento de trabalho não foi compensado com a entrada de mais pessoas, foi suportado com aquelas que já existiam. As pessoas tiveram de trabalhar ainda mais. Isto faz com que a conciliação entre a vida profissional e a vida pessoal seja praticamente impossível”, alertou.
O aumento da carga laboral, associado à pressão e ao assédio moral, levou a que muitas pessoas tenham sentido necessidade de “escolher entre o seu trabalho e a sua saúde mental”, segundo Vítor Silva.
“É uma situação que nos preocupa e muito. As pessoas já estão fragilizadas e há inclusivamente pessoas que têm medo de ir trabalhar. Vão com receio do que vão ouvir durante o dia de trabalho”, sublinhou.
Numa conferência de imprensa de balanço de 2021, o dirigente sindical disse que os problemas laborais nos Açores se acentuaram, alertando para os baixos salários, para a precariedade, para a discriminação entre homens e mulheres, a falta de formação e a escassez de condições de saúde e segurança.
“O ano de 2021 não foi nada benéfico para os trabalhadores açorianos, não só pela situação pandémica que atravessamos, mas porque os problemas estruturais no mercado do trabalho infelizmente se mantiveram e nalguns casos até se agravaram”, frisou.
Tendo em conta a “situação económica frágil” da região e os dados do primeiro semestre deste ano, a USAH e o SITACEHT, afetos à CGTP, estimam que haja um aumento do desemprego em 2022.
“Os dados recolhidos por estas estruturas sindicais e a conjuntura social que vivemos fazem-nos temer um aumento do desemprego nos Açores. O problema será geral, mas no nosso entender atingirá, em primeiro lugar, os jovens, mesmo os altamente qualificados, mas também as trabalhadoras e trabalhadores acima dos 45 anos, que são discriminados no acesso ao emprego”, salientou.
Vítor Silva alertou ainda para a redução dos contratos coletivos de trabalho na região, desde 2003, apelando à intervenção do Governo Regional.
“O Governo [Regional] pode intervir. Bastava que, na atribuição de subsídios e de fundos, um dos critérios fosse que as empresas tivessem contratação coletiva, que cumprissem com as suas obrigações sociais e os vencimentos em dia”, defendeu.
Para o dirigente sindical, o combate à pobreza e à exclusão social nos Açores depende do aumento dos salários e da melhoria de vínculos laborais.
“O número de pessoas que necessitam efetivamente de prestações sociais é o espelho da injustiça social que se aprofunda no nosso arquipélago, sendo ainda mais preocupante o facto de muitos destes beneficiários serem trabalhadores, empregados a tempo inteiro, cuja remuneração é insuficiente para garantir a sua sobrevivência e dignidade”, reforçou.
LUSA/HN
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