Estudo diz que hospitalizações por diabetes podem baixar até 50% com recursos já existentes

24 de Janeiro 2022

Uma equipa de investigadores da Universidade do Porto defendeu esta segunda-feira que é possível diminuir até 50% as taxas de hospitalizações evitáveis por diabetes, utilizando-se os recursos humanos existentes nos cuidados de saúde primários (CSP) “de forma diferente”.

“Apesar do forte avanço registado, nos últimos anos, no cuidado às pessoas com diabetes”, este estudo considera que “é possível melhorar a eficiência dos recursos humanos em muitos dos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACeS) portugueses”.

Investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS) compararam indicadores de qualidade relacionados com a diabetes em 54 ACeS que desenvolvem atividades similares, mas que apresentam diferenças significativas e uma “grande variabilidade dos níveis de eficiência dos cuidados”.

Segundo este estudo, coordenado pelos professores Alberto Freitas e Paulo Santos (FMUP/CINTESIS), os ACeS “tecnicamente ineficientes” podem melhorar os seus resultados até 50%, em média, com os atuais recursos humanos.

Em consequência, “uma maior eficiência nos cuidados de saúde primários pode contribuir para uma redução dos internamentos hospitalares e, assim, ajudar a diminuir os custos evitáveis em saúde”, acrescenta o estudo.

Para os autores, “estes resultados podem ser utilizados pelos responsáveis dos cuidados de saúde primários e pelos decisores políticos, que deverão fazer ‘benchmarking’, isto é, comparar as suas práticas com os seus pares regionais com maiores níveis de eficiência”.

“Este trabalho mostra uma nova abordagem sobre os internamentos evitáveis, que pode ser estendida a muitas outras condições sensíveis aos cuidados primários, além da diabetes. A alocação de profissionais às diferentes necessidades e prioridades de saúde em cada ACeS, a complexidade da lista de utentes de cada médico e os aspetos relacionados com questões demográficas e socioambientais são fatores fundamentais nesta equação”, consideram.

Acrescentam-se fatores como o rácio de doentes por médico, a prevalência da diabetes, a proporção de doentes mais velhos, a proporção de diabéticos com menos de 65 anos e açúcar no sangue (glicemia) controlada e o grau de controlo da diabetes na estrutura organizacional dos cuidados de saúde primários.

Os investigadores sublinham que “os cuidados de saúde primários constituem a principal porta de entrada do sistema de saúde em Portugal”.

Estima-se que a diabetes afete 9,2% dos portugueses, sendo responsável por 5% de todas as mortes.

Este trabalho foi desenvolvido pelos investigadores da FMUP e CINTESIS André Ramalho, Júlio Souza, Pedro Castro, Mariana Lobo, Paulo Santos e Alberto Freitas e publicado no International Journal of Health Policy and Management.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Projeto “Com a Saúde Não Se Brinca” foca cancro da bexiga para quebrar estigma

A Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde lançou uma nova temporada do projeto “Com a Saúde Não Se Brinca” dedicada ao cancro da bexiga. Especialistas e doentes unem-se para combater o estigma em torno dos sintomas e alertar para a importância do diagnóstico atempado desta doença, que regista mais de 3.500 novos casos anuais em Portugal.

Maria Alexandra Teodósio eleita nova Reitora da Universidade do Algarve

O Conselho Geral da Universidade do Algarve elegeu Maria Alexandra Teodósio como nova reitora, com 19 votos, numa sessão plenária realizada no Campus de Gambelas. A investigadora e atual vice-reitora, a primeira mulher a liderar a academia algarvia, sucederá a Paulo Águas, devendo a tomada de posse ocorrer a 17 de dezembro, data do 46.º aniversário da instituição

Futuro da hemodiálise em Ponta Delgada por decidir

A Direção Regional da Saúde dos Açores assegura que nenhuma decisão foi tomada sobre o serviço de hemodiálise do Hospital de Ponta Delgada. O esclarecimento surge após uma proposta do BE para ouvir entidades sobre uma eventual externalização do serviço, que foi chumbada. O único objetivo, garante a tutela, será o bem-estar dos utentes.

Crómio surge como aliado no controlo metabólico e cardiovascular em diabéticos

Estudos recentes indicam que o crómio, um mineral obtido através da alimentação, pode ter um papel relevante na modulação do açúcar no sangue e na proteção cardiovascular, especialmente em indivíduos com diabetes tipo 2 ou pré-diabetes. Uma meta-análise publicada na JACC: Advances, que incluiu 64 ensaios clínicos, revela que a suplementação com este oligoelemento está associada a melhorias em parâmetros glicémicos, lipídicos e de pressão arterial, abrindo caminho a novas abordagens nutricionais no combate a estas condições

Alzheimer Portugal debate novos fármacos e caminhos clínicos em conferência anual

A Conferência Anual da Alzheimer Portugal, marcada para 18 de novembro na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, vai centrar-se no percurso que vai “Da Ciência à Clínica”. Especialistas vão analisar os avanços no diagnóstico, novos medicamentos e a articulação entre cuidados de saúde e apoio social, num evento que pretende ser um ponto de encontro para famílias e profissionais

Bayer anuncia redução significativa de marcador renal com finerenona em doentes com diabetes tipo 1

A finerenona reduziu em 25% o marcador urinário RACU em doentes renais com diabetes tipo 1, de acordo com o estudo FINE-ONE. Este é o primeiro fármaco em mais de 30 anos a demonstrar eficácia num ensaio de Fase III para esta condição, oferecendo uma nova esperança terapêutica. A segurança do medicamento manteve o perfil esperado, com a Bayer a preparar-se para avançar com pedidos de aprovação regulatória.

Hospital de Castelo Branco exige reclassificação na referenciação pediátrica

A Unidade Local de Saúde de Castelo Branco discorda da sua classificação como Hospital de Nível IB na proposta da Rede de Referenciação Hospitalar em Pediatria. A instituição alega que a categorização não reflete a sua capacidade assistencial e já solicitou formalmente uma reclassificação para Nível IIA, invocando uma estrutura pediátrica consolidada e uma oferta diferenciada.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights