Dados avançados à agência Lusa pela Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM) referem que “a pandemia consumiu muitos recursos humanos e as administrações acabaram por ter autorização para contratar novos profissionais: No final de 2021, os hospitais e centros de saúde tinham mais 13 mil profissionais do que antes da pandemia”.
“No entanto, os novos contratados não chegaram para colmatar as falhas. Só para preencher a escassez nas urgências, o SNS gastou perto de 267 milhões de euros com clínicos pagos à hora, a maioria deles recém-formados ou sem especialidade”, enumerou a associação.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da ANEM, Francisco Franco Pêgo, salientou o contributo dado pelos estudantes, nomeadamente no atendimento telefónico do SNS24, “um dos pontos de maior pressão do sistema”, onde estiveram envolvidos cerca de 1.700 estudantes de Medicina.
Alunos finalistas também auxiliaram, não enquanto profissionais de saúde, “em tarefas menos diferenciadas, por exemplo, no hospital de campanha que existiu no Pavilhão Rosa Mota ou mais tarde na Medicina Intensiva do Hospital de Santa Maria”.
Houve ainda 1.650 estudantes que participaram em iniciativas em todo o país como testagens, dádivas de sangue, voluntariado, rastreios cardiovasculares, recolha de bens e alimentos, e apoio hospitalar.
“Várias coisas foram feitas e que vale a pena enquadrar numa discussão mais lata sobre aquilo que foi a gestão da pandemia” que não pode ser centrada apenas numa doença, disse.
Adiantou que houve “uma preocupação” para que “grande parte” dessas atividades fossem direcionadas à pandemia, mas também a iniciativas destinadas “a colmatar o que frequentemente ficou em falha em termos de informação e de prestação de cuidados não covid-19, mas que ficou afetado pela pandemia”.
“Acho que vale a pena, não apenas refletir sobre como é que as coisas aconteceram objetivamente, mas sobre coisas que aconteceram de bem e de mal e que lições importantes há para tirar”, defendeu.
Deu como exemplo os estudantes terem tido novamente a experiência de formação em hospitais com “rácios de um para um, tanto com tutores como com doentes”.
“Isto é algo muito importante para a nossa melhor formação médica e que infelizmente tem sido desconsiderado por governos que insistem em sobrelotar cada vez mais as escolas médicas numa atitude que é prejudicial nos dois eixos”.
Por um lado, sustentou, “o estudante perde oportunidade de aprendizagem de auscultar, de tocar, ou seja, de se tornar um excelente profissional, e, por outro lado, o doente fica comprometido na sua intimidade ao ser exposto a conjuntos de estudantes maiores”.
Francisco Franco Pêgo disse ter “uma grande esperança” de que a pandemia tenha trazido “a memória de como é possível ter uma educação médica de qualidade e com o rácio de tutor estudante relativamente baixo e que isso seja implementado no futuro”.
Por outro lado, realçou, houve uma interação entre escolas médicas e os estudantes de medicina que “foi muito boa” na maioria dos casos e que permitiu “saltos enormes” mesmo em termos de metodologias pedagógicas.
LUSA/HN
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