Mais de um milhão de crianças africanas já receberam vacina da malária

22 de Abril 2022

Mais de um milhão de crianças no Gana, Quénia e Maláui já receberam pelo menos uma dose da primeira vacina contra a malária, que provou ser segura e reduzir substancialmente a forma grave da doença, foi hoje anunciado.

Em comunicado hoje divulgado para antecipar o Dia Mundial de Luta contra a Malária, que se comemora na segunda-feira, a Organização Mundial de Saúde (OMS) lembra que a vacina RTS,S, que começou a ser administrada num projeto piloto no Maláui em 2019, “é segura, viável de administrar e reduz substancialmente a mortífera malária grave”.

Na sequência desta conclusão, a OMS recomendou, em outubro do ano passado, a extensão da sua utilização em crianças que vivam em regiões com transmissão da malária moderada a elevada.

A RTS,S, que levou a uma redução de 30% nas hospitalizações por malária grave, foi a primeira vacina que demonstrou ser capaz de reduzir a malária em crianças.

Se for amplamente administrada, a vacina poderá salvar as vidas de mais 40 a 80 mil crianças africanas por ano, estima a organização.

A malária é uma doença provocada por um parasita transmitido pela picada de um mosquito e mata centenas de milhares de pessoas no mundo, sobretudo em África e maioritariamente crianças com menos de 5 anos.

A agência das Nações Unidas para a Saúde sublinha hoje que a Aliança Global para as Vacinas (Gavi) já garantiu mais de 155 milhões de dólares (142 milhões de euros) para apoiar a introdução, aquisição e entrega da vacina em países elegíveis na África subsaariana.

“Como investigador da malária no início da minha carreira, sonhava com o dia em que poderíamos ter uma vacina eficaz contra esta doença devastadora”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, citado no comunicado.

“Esta vacina não é apenas um avanço científico, tem capacidade para mudar as vidas das famílias em toda a África. Demonstra o poder da ciência e da inovação na saúde. Ainda assim, há uma necessidade urgente de desenvolver mais e melhores ferramentas para salvar vidas e impulsionar o progresso em direção a um mundo livre de malária”, acrescentou.

Segundo a OMS, a vacina tem sido bem aceite pelas comunidades africanas e estima-se que a procura ultrapasse a oferta no curto a médio prazo, já que a atual capacidade de produção é de apenas 15 milhões de doses por ano, estimando-se que a procura ultrapasse anualmente as 80 milhões de doses.

A OMS diz estar a trabalhar com os parceiros para aumentar a oferta através de um incremento no fabrico da RTS,S e de uma aposta no desenvolvimento de outras vacinas de primeira e segunda geração.

No comunicado, a OMS congratula-se com o progresso no desenvolvimento de uma outra vacina, a R21/Matrix-M, desenvolvida pela Universidade de Oxford e que num primeiro ensaio clínico mostrou uma eficácia superior a 70%.

Congratula-se ainda com a notícia de que a farmacêutica BioNTech, produtora da vacina para a covid-19 da Pfizer-BioNTech, pretende desenvolver uma vacina da malária com tecnologia mRNA.

A organização diz estar a avaliar a eficácia de várias novas tecnologias para o controlo do inseto que transmite a malária, incluindo novos tipos de redes mosquiteiras impregnadas com inseticida, abordagens genéticas ou iscos de açúcar para atrair e matar mosquitos Anopheles.

A OMS recorda que também estão em andamento novos medicamentos, mas lembra que há novas ameaças, como a resistência aos medicamentos, a resistência dos mosquitos aos inseticidas, um vetor invasivo que se tem multiplicado em áreas rurais e urbanas e a emergência e alastramento de parasitas do P.falciparum com mutações, que minam a eficácia dos testes rápidos de diagnóstico.

O comunicado recorda que o relatório anual da malária de 2021 alertava para um abrandamento do progresso na redução das mortes, particularmente nos países mais afetados e sublinha que o financiamento da investigação em malária atingiu 619 milhões de dólares (570 milhões de euros) em 2020, estimando-se que seja preciso aumentá-lo para 851 milhões de dólares (783 milhões de euros) anuais entre 2021–2030.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Novos diagnósticos de VIH aumentam quase 12% na UE/EEE em 2023

 A taxa de novos diagnósticos de pessoas infetadas pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) cresceu 11,8% de 2022 para 2023 na União Europeia/Espaço Económico Europeu, que inclui a Noruega, a Islândia e o Liechtenstein, indica um relatório divulgado hoje.

Idade da reforma sobe para 66 anos e nove meses em 2026

A idade da reforma deverá subir para os 66 anos e nove meses em 2026, um aumento de dois meses face ao valor que será praticado em 2025, segundo os cálculos com base nos dados provisórios divulgados hoje pelo INE.

Revolução no Diagnóstico e Tratamento da Apneia do Sono em Portugal

A Dra. Paula Gonçalves Pinto, da Unidade Local de Saúde de Santa Maria, concorreu à 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH), com um projeto inovador para o diagnóstico e tratamento da Síndrome de Apneia Hipopneia do Sono (SAHS). O projeto “Innobics-SAHS” visa revolucionar a abordagem atual, reduzindo significativamente as listas de espera e melhorando a eficiência do processo através da integração de cuidados de saúde primários e hospitalares, suportada por uma plataforma digital. Esta iniciativa promete não só melhorar a qualidade de vida dos doentes, mas também otimizar os recursos do sistema de saúde

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Cerimónia de Abertura da 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde: Inovação e Excelência no Setor da Saúde Português

A Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH) realizou a cerimónia de abertura da 17ª edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, destacando a importância da inovação e excelência no setor da saúde em Portugal. O evento contou com a participação de representantes de várias entidades de saúde nacionais e regionais, reafirmando o compromisso com a melhoria contínua dos cuidados de saúde no país

Crescer em contacto com animais reduz o risco de alergias

As crianças que crescem com animais de estimação ou em ambientes de criação de animais têm menos probabilidade de desenvolver alergias, devido ao contacto precoce com bactérias anaeróbias comuns nas mucosas do corpo humano.

MAIS LIDAS

Share This