Marcelle Miranda da Silva – enfermeira e docente na EEAN Cristina Rosa Lavareda Baixinho – docente na ESEL / CIDNUR Andreia Costa – docente na ESEL / CIDNUR

Aprender, pesquisar e conectar – desafios para a tríade do conhecimento científico

05/21/2022

Uma das grandes dificuldades da ciência está em tonar-se acessível para a comunidade, fazer com que de fato seja implementada e gere impacto positivo, desde a gestão dos processos até a qualidade do atendimento das necessidades das pessoas. Na área da saúde isso não é diferente. São muitos os estudos em desenvolvimento, com geração de inovações e uso de tecnologias, principalmente nas universidades, e muitos entraves que atrasam a chegada dos resultados aos serviços e ao quotidiano das pessoas.

Este problema é mais grave nos países menos desenvolvidos, onde a falta da transferência de conhecimento aumenta o risco de a pessoa desenvolver doença e de ter pior prognóstico. Os obstáculos para acessar aos serviços de saúde, seja pela alta procura e pouca oferta de serviços, ou pelas possíveis dificuldades dos cuidados de saúde primários ainda fragilizados, bem como pela situação pandémica, podem resultar em atrasos nos diagnósticos. E no caso das doenças crónicas, como o cancro, isso é muito grave, pois interfere na evolução da doença, diminui a esperança média de vida e piora a qualidade de vida das pessoas.

Com base nisso, no contexto da saúde global, têm emergido alguns projetos e parcerias institucionais com a finalidade que o conhecimento chegue ao cidadão com maior equidade, priorizando formas para solucionar os problemas, de maneira adaptada às diferentes realidades, principalmente nas desfavorecidas de recursos tecnológicos. Tais estratégias contribuem para a diminuição das desigualdades de acesso à saúde, e devem considerar a saúde como uma situação de completo bem-estar. 

Transferir conhecimento teórico para a prática deve ser objeto de interesse da comunidade científica nas universidades e nos cenários em todos os níveis de atenção à saúde, seja na iniciativa pública ou privada, a partir do compromisso de devolver para a sociedade o conhecimento. Além de conhecimento novo, é preciso aplicar tecnologia e inovar para implementar o conhecimento já sabido, a partir de estratégias de implementação baseadas nas evidências, para melhorar a qualidade de vida das pessoas. 

Pautadas no valor da força transformadora do conhecimento, as instituições de ensino preocupam-se em educar profissionais para que desenvolvam uma visão empreendedora, crítica, reflexiva, competências e habilidades para identificar e pensar o uso das tecnologias para abordar de forma sistemática os problemas. Por estarem em maior número e sempre presentes nos diferentes cenários, os enfermeiros destacam-se como observadores dos problemas e agentes de mudanças. A partir deste potencial, muitas instituições investem na formação científica de enfermeiros investigadores. 

O Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN), da Universidade Federal do Rio de Janeiro/Brasil, instituiu, em 2021, a Política de Inovação, Tecnologia e Transferência de Conhecimento. Em parceria com a Escola Superior de Enfermagem de Lisboa (ESEL), e com o também recente Centro de Investigação, Inovação e Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa (CIDNUR), tem-se desenvolvido ações para instrumentalizar o corpo social de ambas as instituições e alertar sobre a importância deste tópico. Esperamos continuar a avançar com a enfermagem cada vez mais científica, com compromisso social e que valoriza a saúde e a vida humana.

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Projeto “Com a Saúde Não Se Brinca” foca cancro da bexiga para quebrar estigma

A Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde lançou uma nova temporada do projeto “Com a Saúde Não Se Brinca” dedicada ao cancro da bexiga. Especialistas e doentes unem-se para combater o estigma em torno dos sintomas e alertar para a importância do diagnóstico atempado desta doença, que regista mais de 3.500 novos casos anuais em Portugal.

Maria Alexandra Teodósio eleita nova Reitora da Universidade do Algarve

O Conselho Geral da Universidade do Algarve elegeu Maria Alexandra Teodósio como nova reitora, com 19 votos, numa sessão plenária realizada no Campus de Gambelas. A investigadora e atual vice-reitora, a primeira mulher a liderar a academia algarvia, sucederá a Paulo Águas, devendo a tomada de posse ocorrer a 17 de dezembro, data do 46.º aniversário da instituição

Futuro da hemodiálise em Ponta Delgada por decidir

A Direção Regional da Saúde dos Açores assegura que nenhuma decisão foi tomada sobre o serviço de hemodiálise do Hospital de Ponta Delgada. O esclarecimento surge após uma proposta do BE para ouvir entidades sobre uma eventual externalização do serviço, que foi chumbada. O único objetivo, garante a tutela, será o bem-estar dos utentes.

Crómio surge como aliado no controlo metabólico e cardiovascular em diabéticos

Estudos recentes indicam que o crómio, um mineral obtido através da alimentação, pode ter um papel relevante na modulação do açúcar no sangue e na proteção cardiovascular, especialmente em indivíduos com diabetes tipo 2 ou pré-diabetes. Uma meta-análise publicada na JACC: Advances, que incluiu 64 ensaios clínicos, revela que a suplementação com este oligoelemento está associada a melhorias em parâmetros glicémicos, lipídicos e de pressão arterial, abrindo caminho a novas abordagens nutricionais no combate a estas condições

Alzheimer Portugal debate novos fármacos e caminhos clínicos em conferência anual

A Conferência Anual da Alzheimer Portugal, marcada para 18 de novembro na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, vai centrar-se no percurso que vai “Da Ciência à Clínica”. Especialistas vão analisar os avanços no diagnóstico, novos medicamentos e a articulação entre cuidados de saúde e apoio social, num evento que pretende ser um ponto de encontro para famílias e profissionais

Bayer anuncia redução significativa de marcador renal com finerenona em doentes com diabetes tipo 1

A finerenona reduziu em 25% o marcador urinário RACU em doentes renais com diabetes tipo 1, de acordo com o estudo FINE-ONE. Este é o primeiro fármaco em mais de 30 anos a demonstrar eficácia num ensaio de Fase III para esta condição, oferecendo uma nova esperança terapêutica. A segurança do medicamento manteve o perfil esperado, com a Bayer a preparar-se para avançar com pedidos de aprovação regulatória.

Hospital de Castelo Branco exige reclassificação na referenciação pediátrica

A Unidade Local de Saúde de Castelo Branco discorda da sua classificação como Hospital de Nível IB na proposta da Rede de Referenciação Hospitalar em Pediatria. A instituição alega que a categorização não reflete a sua capacidade assistencial e já solicitou formalmente uma reclassificação para Nível IIA, invocando uma estrutura pediátrica consolidada e uma oferta diferenciada.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights