OPSS diz que pandemia mostrou planificação insuficiente na saúde e organização antiquada

21 de Junho 2022

A pandemia mostrou que a planificação da força de trabalho em saúde é insuficiente, a organização profissional antiquada e que falta uma carreira que estimule os talentos, considera o Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS).

No Relatório de Primavera 2022 – “E agora?”, o OPSS sublinha ainda a importância da existência de uma licenciatura em Saúde Pública.

“Ficou por demais óbvio como foi ignorante não ter há muito (e continuar assim…) uma licenciatura em saúde pública como base de um ‘exército’ essencial na resposta às rotinas e quando necessário às crises sanitárias”, refere Henrique Barros, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e autor do primeiro capítulo do documento, intitulado “O que a pandemia nos fez”.

No Relatório de Primavera 2022, o especialista defende igualmente que os anos da pandemia mostraram a centralidade da força de trabalho em saúde, a necessidade de uma formação adequada e de uma distribuição equitativa e inteligente dos recursos humanos pelo espaço geográfico.

O documento sublinha a quebra assistencial nos cuidados de saúde, referindo que se perderam “momentos essenciais de intervenção”, e refere que se protelaram “desnecessariamente atitudes preventivas e curativas que poderão ter reflexo na morbilidade futura”.

“Importa perceber em que medida os cuidados não se acomodaram a esse medo [de recorrer aos cuidados de saúde em casos não covid], que resultou em falta de procura, no limite disrupção dos cuidados”, considera o especialista, alertando: “Terão naturalmente os profissionais que avaliar as atitudes para com elas aprender e rever protocolos de atuação futura perante as epidemias que virão ou simplesmente os agravamentos no número de casos que com a covid-19 possam ocorrer”.

Apontando a redução, e até paragem, dos rastreios e os atrasos no diagnóstico, admite que se atrasaram as deteções de casos de infeção (…) ou doenças não transmissíveis como o cancro, para as quais – sublinha – “se observa uma inequívoca recuperação”, defendendo que a pandemia estará, direta e indiretamente, “ligada a queixas e quadros clínicos que vão requerer cuidados”.

Para além da chamada “covid longa” – insiste – “são evidentes as perturbações de gravidade muito variada que vão das alterações do sono aos quadros complexos de saúde mental”.

“Não quantificar e planear a resposta a esta situação, quanto como fazer finalmente funcionar os centros de epidemiologia hospitalar ou as unidades clínicas dedicadas a doenças emergentes, só pode ser visto como inaceitável falta de visão quanto ao modo como organizar a saúde”, sublinha.

Considera igualmente que a organização “é a chave do sucesso” e que não vale a pena insistir ”na inaceitável ideia das falsas urgências”: “se o recado pode ser aceitável para quem desenha os serviços e o acesso a eles (…) o que se exige é não culpar a vítima”.

“Espera-se antes (…) um caminho que progressivamente racionalize o acesso aos cuidados e no qual as telecomunicações podem ter um papel essencial”, refere o documento, sublinhando que ficou evidente com a pandemia que “não terá sido muita a vontade de fazer funcionar toda a potencialidade das tecnologias de informação”.

O relatório do OPSS diz também que a pandemia deixou a descoberto “a real ausência de uma estratégia de saúde escolar e planos não avulsos de intervenção nas escolas”.

Defende que só assim se conseguirá ajudar a ultrapassar “mais uma iniquidade social”, sublinhando: “estabelecimentos públicos e privados tendem a oferecer, a este nível, condições muito distintas embora, deve dizer-se, muito limitados e essencialmente curativos na oferta privada”.

Ainda no primeiro capítulo, Henrique Barros faz referência à resposta aos mais vulneráveis, como os idosos que vivem nos lares, sublinhando que muito do que mudou no prognóstico destas pessoas se deveu à política de vacinação.

“É essencial estarmos preparados tanto para assegurar em tempo útil o reforço vacinal, como sobretudo dispor de ações alternativas perante qualquer eventual diminuição da proteção vacinal”, alerta.

LUSA/HN

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