“Não nos deixemos seduzir pelos cantos de sereia do populismo, que explora as necessidades do povo propondo soluções muito fáceis e precipitadas. Não sigamos os falsos ‘messias’ que, em nome do lucro, apregoam receitas úteis apenas para aumentar a riqueza de poucos, condenando os pobres à marginalização”, disse, durante a homilia de uma missa celebrada na Basílica de São Pedro.
O pontífice católico assegurou que a melhor resposta é “construir um mundo mais fraterno”, rompendo com “aquela surdez interior que nos impede de ouvir o grito abafado de dor dos mais fracos”.
“Vivemos em sociedades feridas e assistimos (…) a cenários de violência, injustiça e perseguição. Além disso, devemos enfrentar a crise gerada pelas alterações climáticas e pela pandemia, que deixou um rasto de desconforto não apenas físico, mas também psicológico, económico e social”, explicou Francisco, que oficiou a homilia sentado, devido a problemas de saúde no joelho.
Francisco lamentou que a “desgraça da guerra” na Ucrânia cause “a morte de tantos inocentes”, multiplique “o veneno do ódio” e aumente a situação de pobreza.
“Também hoje, muito mais do que no passado, muitos dos nossos irmãos e irmãs, duramente testados e desanimados, migram em busca de esperança, e muitas pessoas vivem a insegurança devido à falta de emprego ou condições de trabalho injustas e indignas”, sublinhou.
O Dia Mundial dos Pobres é celebrado por iniciativa de Francisco “para exortar a Igreja a ‘sair’ dos seus muros e encontrar a pobreza nos múltiplos significados em que ela se manifesta no mundo de hoje”, segundo o Vaticano.
A comemoração deste ano acontece quando a Itália está, mais uma vez, no centro de um debate europeu sobre a migração, com o Governo de extrema-direita da primeira-ministra Giorgia Meloni a enfrentar a França sobre o destino de pessoas resgatadas no Mediterrâneo.
A Itália manteve quatro barcos de resgate no mar por dias até finalmente permitir o desembarque de três na semana passada e forçar a França a receber o quarto.
O impasse desencadeou uma disputa diplomática que resultou na suspensão da participação da França num programa de redistribuição europeu e no reforço da sua fronteira com a Itália.
Para assinalar o VI Dia Mundial dos Pobres, o Vaticano organizou durante esta semana várias iniciativas para ajudar os mais necessitados.
No final da missa, o papa oferece um almoço no Vaticano a 1.300 pessoas necessitadas, muitas delas presentes na eucaristia.
Em Roma, foram distribuídos alimentos para 5.000 famílias carenciadas, além de ajuda para pagarem as contas de gás e eletricidade.
Na Praça de São Pedro foram instaladas “clínicas móveis”, que disponibilizam gratuitamente exames médicos gerais, eletrocardiogramas, análises ao sangue, vacinas contra a gripe e testes à covid-19, HIV, hepatite e tuberculose.
Na Itália, em 2021, o número de pessoas em estado de pobreza absoluta subiu para 5,6 milhões, dos quais 1,4 milhões eram crianças, segundo a Caritas.
LUSA/HN
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