Grandes hospitais são os que menos utilizam medicamentos biossimiliares

10 de Dezembro 2022

Os hospitais que são “grandes consumidores” de medicamentos biológicos, usados no tratamento de doenças graves, são os que menos utilizam biossimilares, que poderiam gerar poupanças de milhões de euros, revela um estudo da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP).

Para conhecer como os hospitais em Portugal beneficiam destes medicamentos, uma equipa internacional de investigadores, liderada pela ENSP, analisou o consumo de biossimilares dos 40 hospitais e centros hospitalares públicos, entre 2015 e 2021.

Adicionalmente, realizou um inquérito ‘online’ a gestores, diretores clínicos, diretores de serviço e farmacêuticos, para identificar determinantes, barreiras e oportunidades da utilização de biossimilares.

Em declarações hoje à agência Lusa, o investigador principal, Julian Perelman, disse que o estudo analisou o tempo de adoção dos medicamentos biológicos, que são mais complexos, “muitos caros”, e servem para tratar doenças mais graves, como o cancro, doenças autoimunes, algumas doenças raras, e dos biossimilares que são “uma espécie de genéricos”.

Os investigadores observaram que havia “muita disparidade” entre os hospitais, com uns a não utilizarem estes medicamentos e outros com uma taxa de utilização próxima dos 100%.

“Isto é que levantou a nossa questão de investigação”, disse, Perelman, questionando por que motivo, havendo alternativas “muito mais baratas” e estando os hospitais com “grandes dificuldades financeiras”, existe uma “tão grande disparidade entre hospitais públicos” quando têm “um incentivo muito claro em adotar estes biossimilares o mais rapidamente possível”.

O investigador considerou preocupante que os “grandes hospitais”, os hospitais universitários, os que utilizam menos os biossimilares, porque são os que utilizam os medicamentos biológicos em maior escala.

No estudo, foram analisados cinco medicamentos biossimilares que custam cerca de metade dos de marca.

“Estamos a falar de medicamentos caros, que custam mais de 300 euros a molécula”, disse, elucidando que, se estes cinco medicamentos fossem utilizados por todas as instituições, gerariam uma poupança anual de 13,9 milhões de euros ao Serviço Nacional de Saúde.

Um dos entraves para a adoção dos biossimilares, segundo o investigador, é que continua a haver “alguma reticência” por parte dos médicos em prescrevê-los.

Contudo, salientou, os biossimilares já são utilizados há mais de 15 anos, havendo já “uma evidência muito robusta” de que são tão eficazes e tão seguros como os medicamentos biológicos de marca.

Por outro lado, considerou, há também “alguma ausência de políticas fortes” no sentido da sua adoção.

Apesar de Portugal não ficar “mal na fotografia”, estando “mais ou menos” na média europeia, podia fazer-se “muito mais, disse, apontando que na Dinamarca, na Alemanha e no Reino Unido as taxas de adoção são muito superiores pelo trabalho realizado antes mesmo de estes medicamentos serem introduzidos no mercado junto dos médicos e mostrando os ganhos que a sua adoção pode trazer para o hospital.

“Portanto, aqui surge uma recomendação: quando nós pensamos em criar orientações para adoção de biossimilares e quando tentamos convencer os profissionais, eu diria que o foco número um deveria estar nos grandes hospitais, nos hospitais universitários, aqueles que têm maior visibilidade”, defendeu.

LUSA/HN

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