Pequim fez uma inversão da sua rigorosa política de “zero casos” de Covid-19 no início de dezembro, levantando a maioria das restrições de saúde que vigoraram durante quase três anos, e que desencadearam manifestações de protesto e confrontos com a polícia em várias cidades da China.
Na mesma altura, os testes de rastreio deixaram de ser obrigatórios e as autoridades chinesas admitiram que era “impossível”, até devido a essa decisão, determinar o número de casos de contágio, além de desvalorizarem a perigosidade da variante Ómicron do coronavírus que provocava a doença.
Desde então, a capital chinesa e os seus 22 milhões de habitantes foram severamente afetados, segundo relatos de especialistas no exterior, nomeadamente em Hong Kong, por uma onda de infeções sem precedentes desde o início da pandemia e que se tem espalhado a grande velocidade nos últimos dias.
Hoje, as autoridades relataram a morte de dois pacientes em Pequim, os únicos, de acordo com os dados oficiais, registados até agora desde que as restrições foram levantadas, em 07 de dezembro.
Hospitais e crematórios têm contudo revelado situações de sobrelotação desde há dias, com aumento de mortes e os medicamentos a começarem a faltar nas farmácias.
“Os números (oficiais) não contam toda a história”, disse Leong Hoe Nam, um especialista em doenças infeciosas baseado em Singapura, relatando que alguns hospitais estão demasiado cheios para acomodar novos pacientes, e alertando que a importância da covid pode ter sido desvalorizada pelas autoridades de saúde.
Desde o levantamento das restrições, as autoridades chinesas têm tentado tranquilizar a população, insistindo na informação de que o vírus já não é perigoso, apesar de ser contagioso, e incentivam as pessoas a irem trabalhar mesmo que estejam positivas.
A província de Chongqing (sudoeste), que tem mais de 30 milhões de habitantes, foi uma das primeiras a permitir e incentivar o regresso ao trabalho apesar dos sintomas de Covid-19.
“Os doentes assintomáticos e ligeiramente sintomáticos podem ir trabalhar normalmente”, refere um aviso da autarquia publicado domingo pelo diário local Chongqing Daily.
Do outro lado do país, a província de Zhejiang, fronteiriça com Xangai, também decidiu que as pessoas com sintomas leves podem “continuar a trabalhar” desde que tomem “medidas de proteção”.
O epidemiologista chefe do país, Wu Zunyou, disse hoje em conferência de imprensa que a China enfrenta “a primeira de três vagas” de Covid-19 previstas para este inverno.
A atual vaga deverá durar até meados de janeiro e afetar principalmente as cidades, antes de as viagens relacionadas com as férias de Ano Novo Lunar (22 de janeiro) causarem uma segunda vaga em fevereiro, afetando também as zonas rurais para onde as pessoas se deslocam para as festividades.
O terceiro pico ocorrerá entre finais de fevereiro e meados de março, quando as pessoas infetadas durante as férias regressarem aos seus locais de trabalho, disse Wu, de acordo com o jornal Caijing.
Com 1.400 milhões de habitantes, a China é o país mais populoso do mundo, mas os dados oficiais dizem que registou, somando as duas mortes notificadas hoje, apenas 5.237 fatalidades pela doença, desde o início da pandemia, no final de 2019.
Os números fornecidos pelo governo da China não são verificados de forma independente.
LUSA/HN
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