Entre agosto de 2021 e março de 2022, a organização ZzappMalaria realizou um projeto-piloto “bem-sucedido” nos distritos de Água Grande, Mé-Zochi e Lobata, que consistiu na redução significativa do número dos mosquitos que transmitem a malária, com o objetivo final de reduzir a doença, até à sua eliminação, em três anos.
“Ao fim da fase piloto, em março de 2022, a ZzappMalaria havia reduzido o número de mosquitos a metade e em 53% as chances de infeção por paludismo” (malária), garante a organização, sediada em Israel.
Fernando Bragança, coordenador de operações da ZzappMalaria em São Tomé e Príncipe, disse à agência Lusa que a ideia acordada era estender o combate da doença ao resto do país, o qual se apoia num aplicativo inovador que visa eliminar o paludismo através de inteligência artificial.
Os mosquitos, nomeadamente as larvas depositadas nas águas paradas, em grande parte acumuladas pela chuva abundante naquele país africano, são destruídos nestas ações da ZappMalaria, mas existem outros métodos que estão a ser equacionados para esta luta, como a introdução de mosquitos geneticamente modificados, após estudo dos insetos que existem em São Tomé e Príncipe.
Segundo Fernando Bragança, o anterior Governo não avançou com a continuidade e expansão do projeto porque o Centro Nacional de Endemias (CNE) nunca foi favorável ao projeto da ZappMalaria.
E o atual executivo – que tomou posse a 14 de novembro de 2022 – ainda não se pronunciou, apesar de o responsável da organização garantir que já entregou toda a informação às autoridades.
A empresa considera que este silêncio visa “permitir um estudo sobre o paludismo, financiado pela Universidade da Califórnia, a decorrer na ilha, com o objetivo de libertar mosquitos geneticamente modificados em algum momento no futuro”.
“Que fique claro: a ZzappMalaria não está contra nenhum estudo ou investigação. Acredito que podemos trabalhar em conjunto, porque o território é suficientemente grande para não eliminarmos todos os mosquitos [larvas]”, disse.
Contactado pela Lusa, o diretor do CNE, Carlos Bandeira, mostrou-se favorável a uma complementaridade dos dois projetos e negou qualquer decisão negativa da parte do organismo que dirige.
“Houve mudança do Governo e, naturalmente, todo o processo se atrasou”, afirmou.
E acrescentou: “A luta contra o paludismo não é só uma ação, mas integrada, envolvendo pulverização nas casas, larvicidas nas águas paradas, redes”.
Sobre a introdução de mosquitos geneticamente modificados, Carlos Bandeira disse que tal dependerá de uma decisão política e daquilo que a nação decidir.
Mas há uma ideia de que “é possível ter os dois projetos a trabalhar”.
Contactado pela Lusa, o ministro da Saúde, Trabalho e Assuntos Sociais de São Tomé e Príncipe, Celsio Junqueira, disse que nada está ainda decidido e que os vários métodos de combate à malária, entre os quais o da ZzappMalaria, estão a ser avaliados.
“Queremos uma decisão mais sólida e não podemos decidir à pressa. O Governo anterior teve muito tempo para decidir e não o fez e agora não nos podem pedir uma decisão em semanas”, adiantou.
Para Celsio Junqueira, numa coisa todos estão de acordo: “É preciso acabar com a malária e cumprir as metas de acabar com a malária até 2025”.
Para já, o ministro garante que o país continua a lutar contra a doença, seja através de meios governamentais, através do Fundo Global – o maior investidor nesta área – e de uma missão técnica da China.
Sem avançar datas para a decisão, o governante disse que gostaria de ver a decisão tomada até ao final do primeiro semestre do ano e que, entretanto, acontecerão mudanças nesta área, como a substituição do coordenador do programa da luta contra o paludismo.
Entretanto, a ZzappMalaria alertou que, “com o fim do projeto-piloto, os números de casos de paludismo continuam a aumentar por toda a ilha” e que “casos de dengue, uma outra doença transmitida por mosquitos, surgiram pela primeira vez”.
No ano passado, os dados do Programa Nacional de Luta Contra o Paludismo são-tomense apontavam para o “incremento acelerado de casos de paludismo desde finais de 2021”, sendo que entre janeiro e maio de 2022 houve “um registo de 1.647 casos de paludismo acumulados”, representando mais 1.023, se comparado ao mesmo período do ano passado.
A malária, ou paludismo, é uma doença parasitária do sangue, provocada por um protozoário do género plasmodium, um parasita transmitido através da picada de um mosquito (do género Anopheles).
De acordo com o Relatório Mundial da Malária – 2021, da Organização Mundial da Saúde (OMS), nenhuma morte por malária foi registada em São Tomé e Príncipe em 2018, 2019 e 2020.
LUSA/HN
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