Os dados deste inquérito nacional, que serão apresentados em Lisboa, revelam que 83,3% dos cuidadores informais inquiridos admitem ter-se sentido em estado de ‘burnout’ e que 77,9% reconhece que precisa de apoio psicológico, mas menos de metade destes procura e usufrui desta ajuda.
“Os dados dizem-nos isso: eles precisam, eles querem e já tentaram ter apoio psicológico”, disse à Lusa a psicóloga Ana Carina Valente, responsável pelo estudo e docente do ISPA – Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida, sublinhando que os resultados mostram que “existe sofrimento psicológico nos cuidadores”.
O inquérito nacional, realizado pela Merck, com o apoio do Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais, mostra igualmente que 78,5% consideram que o seu estado de saúde mental influencia o desempenho do seu papel de cuidador informal e cerca de metade diz não ser capaz de rir e ver o lado positivo como antes.
Apesar de 77,9% reconhecerem a necessidade de apoio psicológico, menos de metade destes procuram e usufruem deste apoio: “A resposta do apoio psicológico em Portugal, por exemplo, do Serviço Nacional de Saúde, não é uma resposta eficaz”, considera Ana Carina Valente.
“Não existem, de facto, apoios públicos que deem resposta a todas as pessoas que precisam de apoio psicológico. (…) Mesmo as pessoas que sentem esta necessidade e procuram esta ajuda, nem todos a conseguem, porque (…) têm que recorrer a serviços privados, onde têm que pagar uma consulta”, lembra a responsável, sublinhando que mais de metade dos cuidadores estão desempregados.
“Nós sabemos que mais de metade dos cuidadores estão em situação de desemprego, com situações muito vulneráveis sob o ponto de vista da sua funcionalidade e do cuidado da família e dos familiares e, portanto, nem sempre o dinheiro sobra”, explica.
Para ajudar a responder a este problema, a responsável defende a criação de linhas de apoio, gratuitas, onde os cuidadores pudessem ter esta ajuda, sem terem de sair de casa, onde cuidam da pessoa que têm à sua responsabilidade.
“Os próprios cuidadores reconhecem a necessidade”, recorda a especialista, considerando que o aparecimento destas linhas de apoio seria ”uma resposta muito importante e muito eficaz”.
“Dá a oportunidade de cuidar de mim sem ter que gastar um dinheiro que muitas vezes eu não tenho”, acrescenta a responsável, insistindo que “nem sempre os centros de saúde e os hospitais dão uma resposta eficaz”.
Sobre a eficácia do acompanhamento à distância, Ana Carina Valente diz que “todos os estudos indicam que é eficaz” e que, neste caso, muitas vezes os cuidadores não se podem mesmo ausentar de casa.
“Assim, conseguimos minimizar as consequências de ser cuidador e também ajudá-los a diminuir estes resultados, tão expressivos nesta população”, acrescentou.
Sobre como operacionalizar a ajuda, responde: “Ou com o Serviço Nacional de Saúde ou, por exemplo, algumas associações podiam ter apoio para contratarem psicólogos, para fazer este trabalho”.
“Nós temos algumas linhas de apoio em Portugal. Esta seria mais uma, específica para os cuidadores, onde os psicólogos receberiam formação para trabalhar nesta área”, afirmou, sublinhando: “Não há saúde sem saúde mental”.
Dando o exemplo da empresa que avançou com o estudo (Merk), que investiu neste estudo, a psicóloga defende que as empresas privadas também podiam investir nesta matéria.
O inquérito conclui que a maioria destes cuidadores se vê numa situação de vulnerabilidade – psicológica, emocional e social – e mostra que mais de seis em cada 10 (63,7%) sentem dificuldade em estar à vontade ou descontraídos.
Os dados mostram igualmente que 45,7% se sentem muitas vezes ansiosos/contraídos e que 37,4% perderam a vontade de cuidar de si.
“Eles pedem, gritam por esta necessidade. Penso que todos nós temos que olhar para estes resultados e fazer alguma coisa. Essas pessoas estão a pedir ajuda e precisam de ajuda”, insiste a responsável.
O estudo abrangeu mais de 1.100 cuidadores, que responderam aos inquéritos entre 03 de novembro de 2022 e 04 de janeiro de 2023. Com base nas estimativas do Instituto de Segurança Social, haverá em Portugal cerca de 1,1 milhões de cuidadores informais.
LUSA/HN
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