Associações reforçam necessidade de revisão de acionamento dos meios de emergência médica

19 de Fevereiro 2023

A Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica e a Sociedade Portuguesa de Emergência Pré-Hospitalar reforçaram hoje a necessidade de “revisão dos fluxos de acionamento dos meios de emergência médica”, reagindo a um caso denunciado na sexta-feira.

O Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH) denunciou a falta de ambulâncias, alegando que um médico de uma Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER), enviada para uma ocorrência pelas 18:00 de sexta-feira, em Faro, perante o facto de “não haver ambulâncias disponíveis, assumiu o transporte no carro do próprio paciente, conduzido pela mulher” deste.

A Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica (ANTEM) e a Sociedade Portuguesa de Emergência Pré-Hospitalar (SPEPH) reagiram hoje a este caso, em comunicados enviados à comunicação social.

A ANTEM recorda que tem vindo “a recomendar a alteração/revisão dos fluxos de acionamento, por forma a ser garantida uma ‘triagem’ mais eficaz, evitando o envio de meios caso não seja necessário, garantindo assim que apenas aqueles que estão criticamente doentes tenham a resposta mais adequada”.

Em referência ao caso de Faro, a ANTEM salienta que “o médico no local terá tomado a decisão de transportar o doente em veículo da família, colocando assim em causa a eficácia e o conforto no transporte do doente à unidade hospitalar”.

“A indisponibilidade de envio de ambulância representa o que temos vindo insistentemente a referir: um modelo que nada mais tem a oferecer ao país, encontra-se totalmente esvaziado, e que parece ter regredido aos anos 1950/60, quando os doentes eram transportados em veículos civis aos hospitais, ao toque da buzina e pondo em causa a segurança de todos os envolvidos e demais utilizadores da via pública. O que naturalmente não oferece qualquer tipo de resposta adequada ou sequer mesmo digna, sem que possam ser providenciados os ‘cuidados durante o transporte’, também estes essenciais”, lê-se no comunicado hoje divulgado por aquela associação.

A ANTEM defende também que “é emergente a introdução da carreira técnica devidamente treinada e a do paramédico, que, à semelhança do que se verifica um pouco pelo mundo inteiro, poderão garantir uma emergência médica mais eficaz e polivalente”.

Para aquela associação, a situação denunciada pelo Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar demonstra, “uma vez mais, a necessidade da criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, já solicitada pela ANTEM em diversas ocasiões”.

“No entanto, parece não haver interesse na constituição da mesma, enquanto isso, continuaremos a ter situações graves, cuja tendência será a de aumentar os constrangimentos já verificados”, defende.

Por seu lado, a SPEPH lembra que já tinha recomendado “anteriormente a revisão dos fluxos de acionamento dos meios de emergência médica, bem como o aumento dos níveis de educação dos provedores dos serviços médicos de emergência, duas medidas que se apresentam como parte da solução para os problemas que se apresentam, e que tendem a aumentar progressivamente”.

Em relação ao que terá ocorrido na sexta-feira em Faro, a SPEPH considera que “o que está, uma vez mais em causa, será o recurso aos meios dos serviços médicos de emergência de forma indiscriminada”.

“Ou seja, o envio dos mesmos para situações que não se afiguram justificativas para o empenho dos mesmos, e que mesmo assim, independentemente dos dados clínicos que as tripulações no local efetuem para os CODU [Centros de Orientação de Doentes Urgentes], o procedimento é sempre o mesmo, transporte ao hospital, mesmo que não tenha critérios para tal, o que por sua vez causa constrangimentos nos hospitais, para os próprios serviços – sobrecarregando estes, e culminando na retenção dos meios dos serviços médicos de emergência, em face da escassez de recursos dos próprios hospitais para acomodar dignamente estes pacientes, que em muitos casos passam horas em macas sem condições para tal”, lê-se no comunicado.

A SPEPH sublinha ainda que “se trata de uma situação anómala que contraria todos os princípios a que os serviços médicos de emergência se subordinam e que, em face desta, deve ser encarada como uma situação única, sem merecer qualquer tipo de acusação ou retaliação”.

Aquela associação pede ainda que o alegado comportamento do médico “não seja considerado qualquer ato de heroísmo, mas sim uma forma arriscada de defrontar a falta de resposta à qual existem obrigações legais, que estão constantemente a ser violadas”.

Na sexta-feira, em declarações à Lusa, o presidente do STEPH, Rui Lázaro, tinha salientado “a coragem” do médico da VMER ao “assumir o risco do transporte” do paciente para o hospital.

LUSA/HN

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