“Tudo depende da distância [do hospital] a que está o doente [quando assistido por meios do INEM], mas facilmente ganhamos 30, 45 minutos. A equipa médica que vai receber o doente tem, antecipadamente, acesso a tudo o que tem a ver com a emergência”, disse o diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), Nelson Pereira.
Em causa está um projeto-piloto partilhado pelo INEM e pelo CHUSJ que resulta da integração dos sistemas informáticos das duas entidades, algo que possibilita que quando um médico do INEM, que acode a uma emergência, começa a inserir dados no programa, esses estejam disponíveis automaticamente nos visores dos computadores ou dos telemóveis dos médicos da urgência do São João.
“Sem telefonemas e sem papel”, disse a médica no departamento de emergência médica do INEM Filipa Barros, que é responsável pelo iTeams, projeto iniciado em 2018 que visa potenciar o registo clínico informatizado deste instituto e junto das estruturas com as quais trabalha, como corporações de bombeiros ou hospitais.
A título de exemplo, imagine-se que o médico do INEM assiste, em casa ou na rua, um doente com suspeita de enfarte agudo do miocárdio ao qual é feito, na ambulância, um eletrocardiograma.
Quer o exame, quer a informação inserida no programa do INEM na hora da ocorrência ficam disponíveis automaticamente para quem recebe o paciente na urgência.
“A primeira causa de morte no mundo civilizado e em Portugal é a doença cerebrocardiovascular, portanto, tudo o que os profissionais de saúde puderem fazer para minorar o tempo de espera destes doentes contribui para diminuir a mortalidade cardiovascular. Isto não substitui as vias verdes. Generaliza o conceito de via verde”, disse o diretor da cardiologia do CHUSJ, Filipe Macedo.
Lembrando que um caso deste género obriga a reunir uma equipa de cardiologia de intervenção e a recorrer a uma sala de hemodinâmica, Filipe Macedo frisou que “tempo é músculo cardíaco”.
“Quanto mais rápida for a abertura de uma artéria, menos sequelas vai ter o músculo cardíaco e melhor vai ser o prognóstico do doente”, disse o também diretor do Programa Nacional para as Doenças Cerebrocardiovasculares da Direção-Geral da Saúde (DGS).
Até aqui, a informação era transmitida na admissão do doente no hospital, à exceção de outros protocolos que existem para as vias verdes enfarte, AVC, trauma e sépsis.
“A informação chega aos hospitais de forma muito anacrónica e só chega quando o doente chega, quando entregamos o doente e fazemos a admissão. Aqui a informação chega antes”, descreveu Filipa Barros, acrescentando que há quatro anos a informação era ainda em papel.
Filipa Barros contou que existem “miniprojetos” em vários hospitais para melhorar esta transmissão de informação, “mas nenhuma integração de sistemas informáticos a este nível”, razão pela qual, feita experiência no Hospital de São João que colocou a ideia em prática há cerca de um mês, o INEM quer estender o projeto a mais estruturas.
“Acima de tudo é preciso vontade. O ideal era que isto fosse feito através de um sistema único e fosse através dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS). Mas é tudo difícil neste país e temos de estar sempre à procura de soluções ‘MacGyver’ [personagem de uma série de televisão que arriscava a vida em operações de salvamento usando utensílios que existiam à sua volta]”, disse a médica.
Questionada sobre o porquê do projeto-piloto ter tido início no CHUSJ, Filipa Barros disse que este hospital do Porto “tem a vantagem de ser informaticamente muito à frente” e garantiu que “o que INEM disponibilizou ao CHUSJ disponibiliza a qualquer outro que assim queira”.
Mas este ganho de tempo só é possível se o doente chegar ao hospital via INEM e, atualmente, só 30% das ocorrências registadas na urgência do São João – que em 2022 registou 462 episódios de urgência em média por dia – parte do 112, uma vez que a maioria continua a chegar pelo próprio pé.
“O tempo tem um impacto muito significativo nas probabilidades de sobrevivência e isto só funciona se quem está a precisar de ajuda ligar para o 112. As pessoas devem ligar para o 112”, apelou Nelson Pereira.
Iniciado em 2018, o iTeams do INEM chegou em 2020 a todos os meios, desde ambulâncias, helicópteros e até motas.
Em 2022, o programa que transmite informação em tempo real chegou a um total de 80 corporações de bombeiros e da Cruz Vermelha.
Este ano, o INEM conta lançar um aplicativo para telemóvel.
LUSA/HN
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