Numa carta enviada às redações, os 24 enfermeiros em exercício de funções daquele serviço dizem que têm sido “alvo de uma pressão profunda” e que “ninguém os tem ouvido”.
De acordo com fonte da equipa à Lusa, a degradação do serviço tem-se verificado há mais de um ano.
“A enfermeira-chefe que se reformou este mês [abril] sempre alertou o Conselho de Administração. O Conselho de Administração ignorou sempre os alertas dados pela enfermeira gestora, que nunca obteve resposta. As reuniões todas que teve foi no sentido apelar à paciência”, disse à Lusa.
Os enfermeiros do Serviço de Medicina III já denunciaram estas situações ao Conselho de Administração (CA), aos sindicatos, à Ordem dos Enfermeiros e às entidades reguladoras de saúde.
No entanto, em resposta escrita à Lusa, o CA refere “que, à data, não foi reportado (…) nenhum caso diagnosticado de ‘burnout’, pressão de médicos, nem assédio moral, ocorrido no Serviço de Medicina III, nem noutro Serviço”.
A Administração do hospital revelou-se surpreendida com a “situação descrita”, lembrando uma reunião na passada quinta-feira com “os chefes de turno de enfermagem do Serviço de Medicina III, e com os adjuntos de enfermagem, e nenhuma dessas situações foi reportada”.
“Nessa mesma reunião, a Administração do HGO solicitou que fosse indicado se algum enfermeiro pretendia fazer a transferência para outro serviço e, até à data, nenhum pedido foi recebido”, acrescenta.
Já os enfermeiros indicam que esse encontro ocorreu apenas com a enfermeira diretora, que integra o CA, e as adjuntas, “no sentido de intimar a equipa”.
Os enfermeiros denunciam atitudes “desadequadas e ameaçadoras” da diretora do serviço de urgência geral, que terá obrigado a enfermeira-chefe a atender um telefonema no âmbito da transferência de um doente para uma maca.
“A passagem de informação clínica dos doentes é da área de competência de enfermeiros (…) não de médicos”, sublinham.
Alguns elementos da equipa médica abordam de forma autoritária os enfermeiros, segundo estes profissionais de saúde.
Pedindo pela segunda vez, no primeiro semestre de 2023, escusa de responsabilidade no serviço de medicina III, os enfermeiros e os assistentes operacionais afirmam que “não se demonstram mais disponíveis para a realização de trabalho extraordinário programado, além do seu horário ou daquele que surja por eminência ou necessidade urgente, de acordo a lei laboral”.
“(…) Em causa está a qualidade e a segurança dos cuidados de enfermagem prestados aos utentes internados no designado serviço, que desde fevereiro de 2023 têm vindo a agravar-se drasticamente”, salientam na carta.
Os enfermeiros indicam ainda que “há imensas irregularidades/incoerências no cumprimento da Plano Sazonal 2022-2023” por “não terem encerrado ou diminuído” as camas destinadas à atividade cirúrgica não urgente, sobrecarregando o serviço.
Sobre este tema, o CA explica que “não tem existido sobrelotação no Serviço de Medicina III, nem necessidade de ativação do Plano de Contingência da Instituição que prevê, em situações excecionais, a utilização de, no máximo, duas macas nos internamentos”.
Contudo, a Administração adianta que “está a ser ultimada a constituição de uma bolsa de recrutamento de enfermeiros na esperança que se possa reforçar tanto a equipa do Serviço de Medicina III, como outras equipas” e que “mantém o diálogo permanente com todos os colaboradores”.
O CA sublinha ainda que “fará o possível para assegurar as melhores condições de trabalho a todos os profissionais e que mantém toda a confiança nos cuidados que se prestam à população”.
Questionada pela Lusa, através de telefone, a bastonária da Ordem dos Enfermeiros (OE), Ana Rita Cavaco, disse que falou com o CA e enviou um ofício, pensando que a situação estaria resolvida.
“Nós não podemos, como país, tolerar esta forma de gerir. (…) Há uma coisa que a ordem não tem, que é poder executivo. Existe um Governo, existe um Ministério da Saúde e um senhor diretor executivo”, realçou, acrescentando que, “se fosse aos senhores enfermeiros desse serviço, apresentava a demissão, porque há muitos hospitais a precisar de contratar”.
Ana Rita Cavaco observou que o HGO “não está a conseguir captar enfermeiros”, acusando a unidade hospitalar de os “tratar mal” e não ter “medidas para os fixar”.
“Depois deste episódio, se decidissem ir embora, esse serviço teria de encerrar, porque são os enfermeiros que estão lá 24 horas por dia. De uma vez por todas, estes maus-tratos aos enfermeiros têm de terminar”, frisou.
LUSA/HN
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