“O envolvimento e a assunção de responsabilidades individual e coletiva têm permitido alcançar ganhos significativos, com cinco anos sem casos autóctones, rumo à certificação da transmissão local do paludismo em Cabo Verde”, projetou a diretora nacional de Saúde, Ângela Gomes.
Numa intervenção na abertura do ato central para assinalar o Dia Mundial de luta contra o Paludismo, aquela responsável sanitária disse que o combate à doença tem sido um “desígnio nacional”, lembrando os dois períodos anteriores, de 1967 a 1972 e de 1983 a 1985, em que se chegou a interrupção da doença no país.
“Isso quer dizer que o ano de 2023 constituirá o terceiro momento em que o país será certificado como livre de transmissão autóctone do paludismo”, ambicionou Ângela Gomes, notando ser “um feito” o país passar mais de cinco anos sem um único caso local.
De acordo com o coordenador do Programa Nacional de Luta contra o Paludismo (PNLP), António Moreira, o país continua com uma “situação favorável” para obter a certificação da eliminação autóctone da doença.
“Ou seja, já lá vão cinco anos que não temos registado casos locais de paludismo, o último caso foi na sequência da epidemia de 2017, em que tivemos um total de 423 casos e um óbito na Praia”, recordou o responsável, indicando que desde inícios de 2018 que o país tem registado apenas casos importados de países endémicos.
A certificação da eliminação da transmissão local do paludismo por parte da Organização Mundial da Saúde (OMS) tem sete etapas e em junho do ano passado o arquipélago recebeu uma missão da organização para uma visita de trabalho para a pré-certificação.
Durante duas semanas, a equipa avaliou os avanços conseguidos no quadro da implementação das recomendações anteriores da OMS, orientou os profissionais e as autoridades de saúde, reviu toda a documentação do país nesta matéria e apoiou na elaboração de um plano de ação e um cronograma para a certificação, em colaboração com as autoridades nacionais.
Na altura, o representante da OMS em Cabo Verde, Daniel Kertész, destacou o “grande trabalho” do país no controlo e, embora sem se comprometer com datas para isso acontecer, disse que está em “boa condição” para obter a certificação como país livre da doença.
António Moreira avançou aos jornalistas que neste momento o país está a realizar o relatório nacional, que será submetido a um painel de especialistas da OMS para avaliação, para depois esses técnicos visitarem o país para certificar o que consta no documento.
Depois disso, prosseguiu, o relatório será submetido a uma outra comissão de eliminação do paludismo, que elaborará uma exposição final, com recomendações do diretor-geral da OMS, que aceitará ou não a certificação de eliminação do paludismo.
De acordo com aquele responsável, as ilhas de Santiago e da Boa Vista continuam a ser as de maiores riscos para reintrodução do paludismo no país, por terem o mosquito vetor que transmite a doença, mas também por terem zonas vulneráveis e muita mobilidade interna e de pessoas provenientes de zonas endémicas.
“Mas é preciso continuar a fazer o acompanhamento, sobretudo na parte ambiental, a drenagem correta das águas pluviais, a recolha sistemática do lixo, o trabalho de perto com a comunidade, no sentido de não baixar a guarda”, aconselhou o diretor, alertando que Cabo Verde tem condições para ter casos locais.
“Daí a importância de um djunta mon (de união de esforços) da população, das câmaras municipais, das associações, dos diferentes ministérios, incluindo da Saúde, para manter esse ganho que é enorme e é de todos dos cabo-verdianos”, salientou.
Em 25 de abril assinala-se o Dia Mundial de Luta Contra o Paludismo, este ano sob o lema “É tempo de alcançar Zero Paludismo: Investir, Inovar, Implementar”, cujo propósito é aumentar a conscientização sobre a necessidade de “implementar” as ferramentas e estratégias que se tem disponíveis hoje para alcançar as populações marginalizadas.
Segundo a OMS, em 2021 foram registados cerca de 247 milhões de novos casos de malária, em comparação com os 245 milhões em 2020, e 95% dos casos e 96% das mortes ocorreram na região africana.
De acordo com o último relatório mundial sobre a malária, publicado em dezembro de 2022, o paludismo matou cerca de 619.000 pessoas em 2021, em comparação com 625.000 em 2020.
A malária, uma doença curável, é transmitida entre humanos através da picada de um mosquito infetado, sendo uma das principais causas de morte a nível global.
NR/HN/Lusa
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