Estudo recomenda melhor controlo do peso durante a gravidez

9 de Setembro 2023

Um estudo nacional da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) mostra que os quilos ganhos durante a gravidez têm um papel importante na persistência da diabetes ao longo do tempo, pelo que os investigadores recomendam maior vigilância.

Em declarações à agência Lusa hoje que se comemora o Dia da Grávida, a investigadora Sofia Monteiro Coelho falou em “conclusões inovadoras” que mostram a importância da vigilância, tenha a mulher maior ou menos peso durante a gravidez.

“A base do estudo foi um grupo de mulheres portuguesas com diabetes gestacional e vimos que na estimativa o ganho de peso durante a gravidez, aquelas que tinham um IMC [índice de massa corporal] menor antes da gravidez, ou seja quem tinha um peso normal, foram as que engordaram mais durante a gravidez”, descreveu.

Sofia Monteiro Coelho acredita que “isto pode dever-se ao facto de as mulheres que já têm mais peso antes da gravidez serem mais vigiadas e mulheres com o IMC normal não terem tanta vigilância”.

Este trabalho, publicado revista científica Endocrine, pretende avaliar a relação entre o ganho de peso (ponderal) durante a gravidez e a persistência da diabetes no pós-parto através da realização de um teste à glicemia em jejum e de uma prova de tolerância à glicose oral (PTGO) entre as 24 e as 28 semanas de gestação.

Ao todo, foram avaliados os dados de 10.389 mulheres, com idade média de 33 anos, sendo que 19,6% tinham tido diabetes numa gravidez anterior.

As mulheres engordaram cerca de 10 quilos (entre 6,4 e 14 quilos) durante a gravidez, mas o ganho de peso foi superior nas que tinham peso normal antes de engravidarem (entre 8,5 e 15 quilos) e menor nas mulheres que eram obesas (entre 3 a 11,5 quilos).

Em média, as mulheres tinham 24 semanas de gestação e 77 quilos quando foram diagnosticadas com diabetes gestacional.

“O resultado foi curioso. No grupo de mulheres com IMC normal antes da gravidez, as que ganharam menos peso, foram as que desenvolveram diabetes no pós-parto. Não estávamos à espera de obter estes resultados. Achamos que nas mulheres com IMC normal como têm uma maior janela de ganho de peso durante a gravidez, e neste grupo especifico de mulheres com diabetes gestacional, a vigilância deve ser mais apertada durante e no pós-parto”, recomendou.

Os dados indicam, também, uma associação entre o baixo peso dos bebés à nascença e a diabetes pós-parto.

“Uma possível explicação pode ser uma menor ingestão calórica durante a gravidez em mulheres que tinham um peso normal no período pré-gestacional, levando assim a um ganho de peso inadequado. Outra hipótese associada ao baixo ganho de peso é um controlo inadequado dos níveis de glicose no sangue da mãe durante a gravidez”, acrescentou.

Sofia Monteiro Coelho adiantou que estes resultados podem servir de base a outros estudos destinados a avaliar o impacto de um ganho de peso limitado em mulheres obesas e nos seus descendentes e a determinar o ganho de peso ideal para mulheres com diabetes gestacional.

Recorde-se que, em Portugal, todas as mulheres grávidas têm acesso a um rastreio de diabetes gestacional, realizado através de um teste à glicemia plasmática em jejum e de prova de tolerância à glicose oral (PTGO), entre as 24 e as 28 semanas de gestação.

Este estudo científico resultou da dissertação do Mestrado em Medicina realizado por Sofia Monteiro Coelho, com a orientação dos professores da FMUP Davide Carvalho e Marta Borges Canha.

LUSA/HN

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