Tedros Adhanom considera surto de dengue no Brasil um “desafio significativo” relacionado com o El Niño

7 de Fevereiro 2024

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, qualificou hoje o surto de dengue no Brasil como um "desafio significativo" e relacionou-o com o fenómeno climático El Niño.

“O atual surto de dengue foi alimentado pelo El Niño”, disse Adhanom durante um evento em Brasília, enquadrando o aumento de casos no país sul-americano como parte de uma expansão global da doença, que matou 5.000 pessoas em todo o mundo em 2023.

O El Niño é um fenómeno climático natural associado ao aumento das temperaturas da superfície no centro e leste do Oceano Pacífico tropical, mas que tem efeitos em todo o mundo.

Os efeitos do fenómeno promovem um aumento da temperatura nas Américas, o que acaba por facilitar a proliferação dos mosquitos Aedes aegypti, transmissores da dengue.

Segundo o diretor-geral da OMS, que está está desde segunda-feira numa visita de três dias ao Brasil, “todas as regiões, exceto a Europa, são afetadas” pela onda de dengue, que é transmitida por mosquitos e causa febres altas e fortes dores musculares, entre outros sintomas.

Ao mesmo tempo, Adhanom felicitou o Governo brasileiro pela sua resposta ao surto e pela introdução da vacina contra a dengue nos protocolos do sistema de saúde pública.

“O surto destaca a necessidade de fortalecer ainda mais o sistema de saúde”, disse, antes de pedir uma “resposta holística que coloque as pessoas no centro” dos cuidados.

Na segunda-feira, o Presidente brasileiro, Lula da Silva, e o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) reuniram-se para discutir uma possível parceria na produção da vacina contra a dengue.

No dia seguinte, a ministra da Saúde do Brasil apelou à união de todo o país “contra a dengue”, numa altura em que os casos aumentam exponencialmente em 2024, depois de 2023 ter registado números nunca antes vistos.

Dados do Ministério da Saúde do Brasil indicam que o país registou 345.235 casos prováveis de dengue este ano, com 36 mortes e outras 234 em investigação. O número de casos triplicou entre os dias 21 e 27 de janeiro, comparando com o mesmo período do ano passado.

Os estados do Acre, Minas Gerais e Goiás, além do Distrito Federal, decretaram situação de emergência em saúde pública.

Em 2023, o país sul-americano registou mais de 1,6 milhões de casos da doença, mais de um quinto de todos os notificados no mundo, e 1.094 mortes, um recorde histórico.

A ministra da Saúde brasileira afirmou ainda ter já transferido 280 milhões de euros para os estados e municípios atuarem em medidas de prevenção e de cuidados de assistência médica.

Quanto às vacinas disponibilizadas do serviço de saúde público estas serão dadas progressivamente, “dado o número limitado de doses produzidas pelo laboratório fabricante”, justificou.

O Brasil começará uma campanha de vacinação pública contra a dengue este mês. O país já divulgou a lista de cerca de 500 cidades que vão receber a vacina contra a dengue, que num primeiro momento deverá dar prioridade a crianças e adolescentes com idade entre dez e 14 anos por estarem entre o público com maior número de internamentos devido à doença.

O Brasil prevê receber até 6,2 milhões de doses de uma vacina japonesa contra a dengue em 2024. Porém, por se tratar de uma vacinação que requer duas doses de vacina, esse valor abrange apenas 3,1 milhões de pessoas e é insuficiente para enfrentar a atual explosão de casos.

LUSA/HN

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