“Cursar medicina não é a mesma coisa do que cursar outra profissão. Tem um grau de exigência, duração, complexidade e necessidade de entrega que os distingue dos demais. Conseguir conciliar isso com a prática do desporto e a presença olímpica, deixa-nos com a certeza que são pessoas excecionais”, afirmou José Manuel Constantino.
O presidente do COP, anfitrião da assinatura do protocolo, expressou esta admiração na presença de dois dos atletas olímpicos médicos nacionais, o lançador Francisco Belo e a varista Marta Onofre.
“Os dois, mas não só, são exemplos para os outros atletas mas também para a sociedade, de ser possível conciliarem o desporto com a carreira académica. No caso dos médicos é uma coisa extraordinária, atendendo à dificuldade, ao trabalho e ao número de anos que é necessário estudar”, salientou.
Igualmente presente na cerimónia, a presidente da Comissão de Atletas Olímpicos (CAO), Diana Gomes, também enalteceu estas “pessoas excecionais”, por conseguirem, com sucesso, “conciliar as dificuldades da qualificação olímpica com a caminhada para a obtenção do diploma final”.
“Conseguiram, com sucesso, desmultiplicar-se, como se fosse possível estar em dois sítios à mesma hora, como se tivessem o dom da ubiquidade”, referiu a antiga nadadora, reconhecendo que “a associação do desporto à medicina é uma aliança perfeita”.
O bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Carlos Cortes, realçou ainda a partilha de valores semelhantes entre as duas áreas.
“O desporto e o olimpismo têm, como a medicina, a visão de melhorar a vida das pessoas, promovendo o humanismo e a igualdade”, sublinhou Carlos Cortes, assumindo-se disponível para uma mais estreita e regular colaboração com o COP para promoverem “valores coincidentes”.
O livro “Atletas olímpicos médicos”, a ser lançado em maio, da autoria de Sofia Barrocas e que conta com as fotografias de Rodrigo Cabrita, vai contar as histórias dos 17 casos portugueses, que vão ser também mostrados numa exposição.
Além de Francisco Belo e Marta Onofre, o atletismo conta ainda com os médicos Irina Rodrigues e Arnaldo Abrantes, numa lista que inclui ainda os nadadores João Araújo, Ana Francisco, Petra Chaves, Ana Alegria e José Gomes Pereira.
Francisca Laia, da canoagem, Rui Bragança, do taekwondo, Ana Moura, do badminton, Ana Rente, da ginástica, Mário Quina, da vela, José Jacques Pena e António Gentil Martins, ambos do tiro, tal como António Silva Martins, que também disputou provas de atletismo em Paris1924.
“É uma honra e é muito gratificante ser um exemplo para os outros, para mostrar e dizer aos jovens que é possível fazer estas duas coisas ao mesmo tempo”, disse Francisco Belo, admitindo que a sua concretização foi “uma maratona fantástica, uma das maiores conquistas na vida”.
Já Marta Onofre reconheceu ter “demorado a perceber que era algo excecional, apesar de haver muita gente a dizê-lo”.
“Olhando para trás, fui ao Rio2016 com 25 anos, não consegui ir a Tóquio2020, devido a uma lesão de longo prazo, e sofri uma lesão gravíssima [arrancamento completo dos tendões], nos Jogos Europeus que deve deixar-me fora de Paris2024, de facto, é possível conciliar, mas acho que não é possível conciliar com o máximo de rendimento possível”, explicou.
Para isso, a atleta e médica sugere uma “maior abertura do Ministério da Saúde”, a fim de excecionar os programas de formação de especialidade, para, por exemplo, “desdobrar os quatro anos em oito, diminuindo as 40 horas semanais para 20”.
“Essa abertura não existiu, na altura [após o Rio2016], e acho que ainda não existe. Muito provavelmente a lesão de longa data que eu tenho se deve a, obviamente, falta de tempo de descanso, dificuldade em ter tempo para fisioterapia e acumulação de noites na urgência. Mas acho que este seria um passo importante para os futuros médicos olímpicos terem melhores condições para serem ainda melhores nas carreiras”, sublinhou a recordista nacional do salto com vara.
LUSA/HN
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