Onda de desinformação sobre cólera provocou 121 mortos desde 2023 em Moçambique

14 de Abril 2024

Pelo menos 121 pessoas, 98 das quais numa só circunstância, morreram devido a ondas de desinformação sobre o surto de cólera em Moçambique, de acordo com os dados oficiais tornados públicos desde outubro do ano passado.

A maior parte das vítimas, 98 pessoas, perderam a vida numa só circunstância, quando, há uma semana, um barco que saía do posto administrativo de Lungo, no distrito de Mossuril, com destino a Ilha de Moçambique, naufragou, matando 55 crianças, 34 mulheres e nove homens.

De acordo com as autoridades marítimas moçambicanas, a embarcação de pesca, na qual seguiam 130 pessoas, não estava autorizada a transportar passageiros e as pessoas fugiam de um alegado um surto de cólera, com destino à Ilha de Moçambique, tendo o naufrágio acontecido a cerca de 100 metros da costa.

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, visitou o posto administrativo de Lunga para confortar as famílias enlutadas na quinta-feira, tendo reconhecido que o naufrágio resulta “da desinformação protagonizada por pessoas com interesses obscuros”.

“Não permitam boatos”, declarou Filipe Nyusi, durante a interação com as famílias das vítimas.

Registos apontam para a existência de mais 23 pessoas que, desde outubro de 2023, perderam a vida em resultado de ondas de desinformação em temas ligados à cólera, avançou o comandante-geral da polícia moçambicana, Bernardino Rafael, no dia 17 de janeiro.

Os líderes comunitários e técnicos de saúde, na sua maioria, têm sido mortos e feridos por populares sob alegações de estarem a levar a doença às comunidades.

“A polícia foi chamada a intervir em 27 casos violentos relacionados à cólera”, nos quais os líderes comunitários foram as principais vítimas, disse o comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM).

Entre maio e novembro, pelo menos 16 pessoas foram detidas na província de Sofala, no centro de Moçambique, por passarem informações erróneas sobre a cólera, indicaram as autoridades.

Segundo o comandante-geral, alguns agentes da polícia moçambicana acabaram também sendo vítimas durante as escaramuças, quando tentavam garantir a ordem e segurança pública.

Segundo dados consultados pela Lusa no princípio deste mês, as autoridades sanitárias moçambicanas registaram 14.712 casos de cólera em cinco meses, que provocaram, durante o atual surto, 32 mortos.

A cólera é uma doença, tratável, que provoca fortes diarreias e que pode provocar a morte por desidratação se não for prontamente combatida.

A doença é causada, em grande parte, pela ingestão de alimentos e água contaminados por falta de redes de saneamento.

Em maio passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que o mundo terá um défice de vacinas contra a cólera até 2025 e que mil milhões de pessoas de 43 países podem ser infetadas com a doença, apontando, já em outubro, Moçambique como um dos países de maior risco.

LUSA/HN

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