Especialistas alertam para consequências de cirurgias vaginais em adolescentes

2 de Junho 2024

Cada vez mais mulheres jovens e adolescentes estão a submeter-se a cirurgias vaginais, como as labioplastias, em hospitais e clínicas, mas especialistas ouvidos pela Lusa alertam para as consequências futuras dessas cicatrizes no parto e na menopausa.

 O ginecologista responsável pela unidade de trato genital inferior no Hospital de S. João (Porto), Pedro Batista, disse que a unidade recebe “pelo menos dois ou três pedidos por mês [de labioplastias] naquela unidade hospitalar.

O médico explicou que a jovem mulher que se submete a este tipo de cirurgia vai crescer e que o seu corpo vai mudar. O desfecho dessas cirurgias quando realizado em mulheres muito jovens pode resultar em complicações, como no parto ou na menopausa.

Para o especialista não se pode ceder à política de convencer as pessoas que precisam de fazer cirurgias para ser “normal” ou “para salvar o casamento”.

O médico exemplificou: “A rapariga jovem de 13, 14 anos, muitas vezes quem lhe causa o problema é a mãe. É a mãe que vem com ela e diz aquilo [os pequenos lábios vulvares] é enorme (…). É a pressão das mães que as faz sentir que têm necessidade de uma intervenção”.

Também a cirurgiã plástica no Hospital Universitário de Coimbra (HUC) Sara Ramos afirmou que chegam aos HUC “um a dois casos por mês” de jovens mulheres a pedir labioplastias.

“Quando comecei a especialidade, há 20 anos, praticamente não aparecia e agora aparece um caso todos os meses”, disse a cirurgiã, considerando, empiricamente, que há aumento da procura destas cirurgias relacionadas com a redução dos lábios da vulva, tanto nos hospitais públicos como nos privados.

Muitas mulheres estão preocupadas com o seu aspeto e recorrem à cirurgia para corrigir, explicou a médica, lamentando que os órgãos genitais estejam a ser sujeitos a um escrutínio baseado na noção de uma estética popular ou por influência da indústria pornográfica.

Sara Ramos referiu que há muita variabilidade na natureza e isso não é necessariamente uma doença.

As pacientes que se submetem à cirurgia no Serviço Nacional de Saúde têm comparticipação, mas as intervenções só são realizadas quando há questões/queixas funcionais ou patologias.

No privado, a tabela de preços destas cirurgias situa-se entre os 2.500 e os 4.500 euros, havendo uma consulta prévia com o médico para definir que, ou quais são as cirurgias a realizar e a paciente entra e sai em regime de ambulatório no mesmo dia.

As clínicas que a Lusa consultou na internet fazem desde labioplastias, ‘lipofilling’ (preenchimento) dos lábios vaginais, clitoroplastia e hímenplastia.

Duas clínicas privadas que a Lusa contactou telefonicamente confirmaram que há uma procura de três a quatro pacientes por mês para realizar uma labioplastia. As razões prendem-se com questões funcionais ou estéticas.

LUSA/HN

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