Investigadores potenciam descoberta de novas terapias para doenças autoimunes

6 de Junho 2024

Investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) desvendaram o que falha na produção de linfócitos T durante o envelhecimento e desencadeia o desenvolvimento de doenças autoimunes, potenciando a descoberta de novas terapias.

Publicado na revista científica Cell Death and Disease, o estudo demonstra “o que falha na produção de linfócitos T à medida que envelhecemos e que desencadeia o desenvolvimento de doenças autoimunes”, revela hoje, em comunicado, o instituto da Universidade do Porto.

As doenças autoimunes são patologias debilitantes em que o sistema imunitário, nomeadamente, os linfócitos T afetam os próprios tecidos, como a doença de Crohn ou o Lúpus.

Produzidos no timo, os linfócitos T são uma das principais células de defesa do organismo e por isso considerados uma das principais “frentes de combate” a infeções ou ao cancro.

Durante as fases iniciais da vida, o timo produz uma grande diversidade de linfócitos T capazes de responder a qualquer agressão, como infeções provocadas por vírus e bactérias.

Esta capacidade prende-se com a existência de recetores únicos e diferenciados em cada um dos linfócitos T que permitem reconhecer componentes estranhos no organismo.

No entanto, a produção de linfócitos T vem “com um preço”, nomeadamente, o desenvolvimento de linfócitos T autorreativos, ou seja, “células que atacam elementos dos próprios tecidos”, causando doenças autoimunes.

Citado no comunicado, o investigador Nuno Alves esclarece que o estudo mostra que são outras células residentes no timo, designadas células epiteliais tímicas, responsáveis por educar os linfócitos T durante o seu desenvolvimento, de forma a manter apenas os que respondem ao que é estranho no organismo e eliminar os autorreativos.

A função destas células “diminui após o nascimento e vai diminuindo cada vez mais com o avançar da idade, o que significa que à medida que envelhecemos o sistema imunitário tem mais dificuldade em produzir linfócitos T capazes de reagir a novos agentes agressores, o que pode tornar mais suscetíveis a novas infeções”, explica a primeira autora do estudo, Camila Ribeiro.

Outra das consequências do envelhecimento do timo e das suas células prende-se com uma “maior dificuldade do sistema imunitário distinguir os elementos patogénicos ou estranhos daqueles que pertencem aos próprios tecidos e, consequentemente, a perda desta capacidade potencia o aparecimento de doenças autoimunes”.

Os resultados do estudo demonstram ainda que o gene Foxo3, conhecido como o gene da longevidade, é essencial para prevenir que estas células garantem uma resposta imunitária eficaz contra infeções ou o cancro, “ao mesmo tempo que mantém a tolerância imunológica aos próprios tecidos e previnem a autoimunidade”.

A função deste gene já era conhecida no contexto da longevidade e proteção contra várias doenças, mas desconhecia-se a sua função no timo e no contexto da autoimunidade.

Descoberta a função deste gene, “o desafio passa por conseguir manipulá-la de forma farmacológica com o objetivo de reativar ou corrigir a função das células e assim contrariar o envelhecimento do timo, apoiar a eliminação dos linfócitos T que podem causar doenças autoimunes e fortalecer a resposta imunitária”, acrescenta Nuno Alves.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Hospital de Évora ganha especialidade de Cirurgia Maxilofacial

O Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE), integrado na Unidade Local de Saúde do Alentejo Central (ULSAC), conta, desde meados deste mês, com a especialidade de Cirurgia Maxilofacial na sua carteira de serviços, foi hoje anunciado.

Relatório de saúde STADA 2024: sistemas de saúde na Europa precisam de reformas urgentes

Os sistemas de saúde europeus estão em crise e necessitam de uma reforma urgente, revela o Relatório de Saúde da STADA 2024. Este inquérito representativo, que envolveu cerca de 46.000 entrevistados em 23 países europeus, destaca que os sistemas de saúde não conseguem atender adequadamente às necessidades de muitos europeus, levando-os a assumir a responsabilidade pela sua própria saúde.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights