Subprodutos da canábis medicinal vão poder eliminar doenças nos olivais

26 de Setembro 2024

Um projeto de valorização dos subprodutos oriundos da canábis medicinal como biopesticida, para eliminar doenças nos olivais, está a ser desenvolvido por um consórcio liderado pelo InnovPlantProtect (InPP) de Elvas, no distrito de Portalegre, foi hoje divulgado.

Em comunicado enviado à agência Lusa, o Laboratório Colaborativo InPP explica que o projeto “ValorCannBio” vai receber um financiamento da “La Caixa/BPI” no valor de 150 mil euros.

Este projeto, segundo os responsáveis, vai permitir explorar os subprodutos da produção de canábis medicinal como biopesticidas “sustentáveis e eficazes” para controlar as principais doenças do olival, nomeadamente a gafa e a tuberculose.

“A gafa é considerada prioritária, por causar perdas de produção que podem atingir os 100% a que correspondem mais de 50 milhões de euros, a redução da qualidade do azeite e estar a levar ao desaparecimento do património genético das variedades de olival tradicional como a galega, altamente suscetível à doença”, lê-se no comunicado.

De acordo com o InPP, a tuberculose é uma doença do olival que se espalha pela “quase totalidade” dos olivais e que reduz a qualidade do azeite.

“Para contribuir para o controlo das duas doenças que afetam o olival, a equipa de investigadores envolvida no projeto desenvolverá um biopesticida a partir de folhas da planta de canábis, consideradas excedentes do processo de produção de canábis medicinal em Portugal, que legalmente têm de ser destruídas”, lê-se no documento.

Citada no comunicado, a investigadora Ana Rita Duarte, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, outro dos parceiros do projeto, explica que as soluções existentes no mercado para combater a gafa e a tuberculose “não são eficazes” e recaem em grupos dos pesticidas de síntese química, com “impactos negativos” no meio ambiente, e que estão a ser “descontinuados” no mercado.

Por outro lado, segundo a investigadora, as empresas de canábis podem vir a escoar os excedentes da biomassa para uma futura indústria produtora de biopesticidas, “evitando os altos custos” de destruição e apostando numa economia circular.

“Este projeto visa a integração dos conceitos de agricultura sustentável, aliados à química verde, para obtenção de produtos mais amigos do ambiente”, explica Ana Rita Duarte.

Também citada no comunicado, a diretora do departamento de novos biopesticidas do laboratório colaborativo InPP, Cristina Azevedo, o “ValorCannBio” vai contribuir para as metas estabelecidas pela Comissão Europeia na Estratégia do Prado ao Prato e da Biodiversidade, na redução de 50% do uso de pesticidas de síntese química até 2050.

“Todos os impactos do ´ValorCannBio` serão inicialmente sentidos no concelho de Elvas onde o projeto se vai desenvolver. No entanto, é expectável que estes se alarguem a toda a região de produção do olival, de Trás-os-Montes ao Algarve, onde as quebras de produção devido à gafa e à tuberculose estão em crescendo”, sublinha.

Este projeto liderado pelo InPP conta com a parceria do Laboratório Associado para a Química Verde (LAQV) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, GreenBePharma (GBP) – produção de canábis medicinal e da AGR Global – cultivo e produção de olival.

O projeto, segundo os responsáveis, foi um dos vencedores da 6.ª edição do Programa Promove da Fundação ”la Caixa”, em colaboração com o BPI e Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), na categoria de projetos-piloto inovadores.

LUSA/HN

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