Clínica abre em Lisboa para atender grávidas e crianças sem médico de fámília

18 de Outubro 2024

A clínica Nascer e Crescer, hoje inaugurada na unidade de saúde de Marvila, em Lisboa, pretende dar resposta a cerca de 700 grávidas e 2.500 crianças até aos dois anos sem médico de família.

Desde que abriu portas há duas semanas, a clínica já recebeu 80 referenciações de crianças e cerca de 40 grávidas que não tinham qualquer tipo de vigilância, disse à agência Lusa Hugo Gaspar, diretor clínico da Unidade Local de Saúde Local (ULS) para os cuidados de saúde primários.

“Estou a falar de grávidas, às vezes, com 20 semanas, 28 semanas que ainda não tinham tido consultas e de crianças já com 9, 10 meses, um ano sem qualquer tipo de vigilância de saúde”, elucidou Hugo Gaspar, adiantando que “o grande volume” de novas inscrições são de imigrantes que estão inscritos na ULS São José.

A clínica de atendimento para grávidas e crianças foi inaugurada hoje pela ministra da Saúde, Ana Paula Martins, que em declarações aos jornalistas, considerou ser “o mais virtuoso de todos os exemplos” da articulação dos cuidados de saúde primários e hospitalares.

“Este é o melhor de todos os exemplos, o mais virtuoso de todos os exemplos, haverá outros naturalmente, porque está focado numa área, maternoinfantil, para a qual precisamos definitivamente – como todos sabemos e todos temos responsabilidade, o Governo, sobretudo – de encontrar respostas para novos desafios que temos tido nos últimos anos”, salientou.

Questionada se o projeto da ULS São José será replicado por outras unidades, a ministra admitiu que haverá “nos próximos anos e, sobretudo, nos próximos meses”, um aumento deste tipo de espaços.

“É uma excelente ideia e uma forma de organização que dá de facto resposta na área maternoinfantil em proximidade de maneira muito eficaz”, disse.

Para Ana Paula Martins, “a grande virtude” destes projetos é que nascem da vontade dos profissionais, “não são impostos por decreto”, o que disse fazer toda a diferença”.

“Este é um exemplo construído pela ULS São José. Não precisaram do Governo, não precisaram de nenhum grupo de trabalho, precisaram de criatividade, apoio, inovação, trabalho de equipa, vontade. E o sonho tornou-se realidade”, enalteceu.

Na clínica, trabalham três enfermeiros especialistas de Saúde Materna e Infantil e seis especialistas de Medicina Geral e Familiar.

Responsável pela parte de enfermagem da clínica, Dulce Novo contou à Lusa que fazia “imensa confusão” aos profissionais que abraçaram o projeto “não haver uma resposta para estas grávidas e estas crianças”.

“Foi por isso que este projeto foi muito bem-vindo. Faz todo o sentido poder dar resposta em fases chave do desenvolvimento”, disse a enfermeira especialista, contando que os utentes ficam “deveras surpreendido” com a capacidade de resposta, mas ressalvou que é preciso “ir devagar” a abrir vagas, para que não haja a situação de continuarem sem médico, sem enfermeiros e sem assistência.

O objetivo é dar uma resposta consolidada e não “criar falsas expectativas à população”, sublinhou.

Hugo Gaspar explicou que a clínica trabalha em articulação com a Maternidade Alfredo da Costa e com o hospital pediátrico D. Estefânia, defendendo que, se as grávidas e as crianças estiverem bem vigiadas, “há uma redução de incidentes de saúde bem acentuada”.

O objetivo é que uma grávida tenha no mínimo cinco consultas de vigilância, mais a revisão de parto, e a criança tenha no primeiro ano de vida seis consultas de vigilância, cumprindo as orientações da Direção-Geral da Saúde.

Este acompanhamento permitirá detetar diagnósticos de forma atempada ou mesmo evitar episódios de doença aguda, diminuindo a necessidade de deslocações desnecessárias aos serviços de urgência.

Presente na inauguração, a presidente da ULS São José, Rosa Valente de Matos, realçou que a clínica resultou de “um enorme trabalho” das equipas da ULS.

“Só trabalhando de forma articulada, profissionais de saúde, infraestruturas, informáticos, é possível levar um projeto destes a bom porto, disse a administradora hospitalar, considerando que esta articulação é facilitada porque se está integrado numa unidade local de saúde.

Para Rosa Valente de Matos, é “um projeto vencedor” porque permite “investir na promoção da saúde e na prevenção da doença e na proximidade dos cuidados”.

“Ao mesmo tempo, garantimos o encaminhamento para os cuidados de saúde mais especializados ao nível hospitalar, concretamente para as especialidades de obstetrícia”, disse, anunciando ainda que, no futuro, pretende-se abranger “todas as crianças, pelo menos até aos 5 ou 10 anos”.

LUSA/HN

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