Abuso de autoridade e assédio não são denunciados por receio de retaliações

22 de Outubro 2024

Dois em cada dez trabalhadores portugueses dizem ter tido conhecimento no último ano, de casos de abuso de autoridade, 'bullying' e assédio, mas não os reportaram por acreditar não haver consequências ou por medo de retaliações, revela um estudo.

O inquérito “Ethics at Work 2024″ do Institute of Business Ethics, efetuado em Portugal com a parceria da Católica Porto Business School, analisou, entre abril e maio de 2024, três grandes áreas: a cultura ética; a identificação de riscos éticos; e o apoio à ética no local de trabalho, num universo de cerca de 12 mil pessoas de 16 países (Reino Unido, os EUA, a Irlanda, a França, a Alemanha, a Itália, a Espanha, a Austrália, a Nova Zelândia, Portugal, a África do Sul, os Países Baixos, Hong Kong, o Brasil, a Índia e o Japão).

Em Portugal, os resultados – que serão apresentados em sessão pública na Conferência anual do Fórum de Ética, em 12 novembro – revelam que dos países inquiridos, os trabalhadores portugueses são dos que têm menos probabilidades de fazer uma denúncia depois de terem conhecimento de má conduta.

“Nós continuamos a ser dos piores países a reportar. Em 2019, 49% dos trabalhadores reportavam, depois baixou, em 2021, para 46%, mas teve de ver com a [pandemia de] covid-19, e agora aumentou para 56%. Há aqui uma melhoria no reporte, mais ainda assim são números muito grandes e bastante inferiores aos outros países”, afirmou, em declarações à Lusa, Helena Gonçalves, coordenadora do Fórum de Ética da Católica Porto Business School.

De acordo com o estudo, cerca de dois em cada dez trabalhadores em Portugal afirmaram ter tido conhecimento de condutas que consideravam violar a lei ou as normas éticas da sua organização no último ano.

Entre os que não comunicaram, cerca de quatro em cada dez apontaram a descrença quanto à tomada de medidas corretivas (41%) e o medo de pôr em risco o seu emprego (36%) como os principais entraves à denúncia.

Já entre os que reportaram, quase metade (51%) afirma ter sofrido uma forma de desvantagem pessoal ou retaliação em resultado disso, número que coloca os trabalhadores portugueses, juntamente com os da Alemanha (53%), França (64%) e Índia (65%), entre os mais suscetíveis de sofrer retaliações. Embora maior do que registado em 2021 (42%), este número é semelhante à média global (46%).

O estudo revela também que cerca de um em cada cinco trabalhadores portugueses sentiu-se pressionado a comprometer os padrões éticos de comportamento (22%), à semelhança dos dados recolhidos em 2021 (21%). Este valor é, contudo, superior à média global que se fixa nos 15%.

Ainda segundo o inquérito, cerca de quatro em cada dez trabalhadores que se sentiram pressionados afirmam que “a pressão do tempo/prazos irrealistas (38%) e o cumprimento das ordens do chefe (37%) são as principais fontes de pressão”.

Em linha com as tendências anteriores, o abuso de autoridade é o tipo de má conduta de que os trabalhadores portugueses têm mais probabilidade de ter tido conhecimento (43% dos que tiveram conhecimento de má conduta referiram este aspeto), seguindo-se o ‘bullying’ e outras formas de assédio (32%).

Este ano, explicou Helena Gonçalves, o assédio sexual passou constar numa categoria autónoma, o que não sucedeu no estudo realizado em 2021, o que permitiu “perceber que em Portugal também há um assédio sexual relativamente grande, mas, do que estamos verdadeiramente a falar é de assédio moral”.

No cômputo global, o estudo revela que um em cada três entrevistados (35%) tem conhecimento de abuso de autoridade, enquanto 32% relataram casos de ‘bullying’ e assédio. Já 20% dos colaboradores reconheceram ter conhecimento de assédio sexual.

O estudo mostra ainda que, entre os dois terços dos colaboradores que levantaram preocupações (64%), quase metade (46%) enfrentou “desvantagens pessoais ou retaliação por terem falado abertamente, e 28% expressaram insatisfação com o resultado”.

LUSA/HN

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