Sociedade científica alerta para procura por cirurgias plásticas após perda de peso

29 de Outubro 2024

A Sociedade Portuguesa de Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e Estética (SPCPRE) alertou hoje para o previsível aumento das listas de espera de pessoas que precisam de ser operadas depois de perderem peso através de novos medicamentos.

O assunto esteve em análise na reunião anual da sociedade científica que decidiu criar uma `task force´ composta por especialistas desta área para analisar, em conjunto com os responsáveis de várias entidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS), o impacto dos pedidos de cirurgia plástica no serviço público de saúde.

“Nota-se que as listas de espera estão a aumentar e é isso que essa `task force´ quer fazer, sentar-se com os principais serviços do SNS para perceber qual é a verdadeira dimensão do problema e delinear critérios de inclusão ou de prioridade para este tipo de pacientes”, adiantou à Lusa o presidente da SPCPRE.

De acordo com a sociedade científica, nos últimos anos, com o aumento dos tratamentos de obesidade e das cirurgias bariátricas, a que se junta o surgimento de novos fármacos para a perda significativa de peso, registou-se um “crescimento claro” na procura de cirurgias plásticas reconstrutivas para a remoção de excesso de pele e correção de tecidos, procedimentos considerados essenciais para completar a recuperação destes pacientes.

Estas cirurgias, além de melhorarem a qualidade de vida dos pacientes, têm impacto direto na sua autoestima, na mobilidade e na saúde mental, alega a SPCPRE.

Nuno Fradinho adiantou que os serviços de cirurgia plástica do SNS já têm bastante pressão para dar resposta aos doentes que necessitam de ser operados para vários motivos, como reconstrução mamária e devido a tumores e traumas, mas também de pacientes que perdem peso com dieta e exercício e através de cirurgias bariátricas.

“Agora também se somam muitos mais e, cada vez mais se vão somar, de pacientes que tomam este tipo de medicação” que leva a uma perda de peso significativa, como é o caso do injetável Ozempic, desenvolvido para tratar o diabetes tipo 2, mas que está também a ser usado para combater a obesidade, referiu o presidente da sociedade.

“Nós temos a noção e a perceção que a pressão começa a aumentar”, salientou Nuno Fradinho, ao referir que em causa estão pacientes que têm de fazer inúmeras cirurgias depois de ter perdido um terço ou metade do seu peso.

Segundo referiu, trata-se de uma medicação que é “cada vez mais frequente no mundo inteiro”, estando ainda previsto que surjam novos fármacos orais, tendo em conta que se está perante “um dos maiores mercados de medicamentos em potência”.

“Há uma aposta muito grande da indústria farmacêutica nestes fármacos, o que não têm mal nenhum”, referiu o presidente da SPCPRE, ao alertar, porém, que este tipo de medicação vai “tornar esse fenómeno muito mais frequente porque os pacientes, de facto, perdem bastante peso só com uma medicação”, que pode chegar aos 30, 40 ou 50 quilos.

“Não temos números na realidade nacional e é isso que nos propomos a fazer, para ter a noção do problema, não só atual, mas também numa lógica preventiva, porque é algo que vai agravar”, referiu Nuno Fradinho.

O diretor do serviço de cirurgia plástica e reconstrutiva e unidade de queimados da Unidade Local de Saúde São José, em Lisboa, adiantou à Lusa que a maioria dos doentes que chegam a esse serviço perderam peso porque fizeram uma cirurgia bariátrica, mas, no futuro, “provavelmente vai ter de lidar com os que vão perder peso com os medicamentos que estão a aparecer”.

“Não se prevê que o acesso destes doentes diminua, mas antes pelo contrário, que continue a aumentar”, adiantou Joaquim Bexiga, ao salientar que, após perdas significativas de peso, são necessárias várias cirurgias reconstrutivas.

“Com o tempo que leva entre cada uma, a manter-se os tempos de espera atuais, isso arrasta-se durante mais tempo do que aquele que seria desejável”, chegando a anos até concluir todo o processo, alertou o especialista.

A `task force´ agora criada pretende avaliar a capacidade de resposta do SNS face à crescente procura de cirurgias reconstrutivas pós-bariáticas, mas também desenvolver protocolos e diretrizes para assegurar que os pacientes com maior necessidade clínica e psicológica sejam atendidos de forma prioritária.

LUSA/HN

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