Médicos temem que deficiência de iodo até agora ultrapassada esteja a regressar

7 de Janeiro 2025

A deficiência de iodo afetava há um século crianças em grandes zonas dos Estados Unidos e o problema, que tinha desaparecido através da indústria alimentar, está a regressar com alterações na dieta e no fabrico de alimentos.

O problema parecia estar ultrapassado depois de alguns fabricantes de alimentos terem começado a adicioná-lo ao sal de cozinha, ao pão e a alguns outros alimentos, numa das grandes histórias de sucesso em saúde pública do século XX, noticiou na segunda-feira a agência Associated Press (AP).

Mas atualmente, as pessoas estão a receber menos iodo devido a alterações na dieta e no fabrico de alimentos.

Embora a maioria das pessoas ainda esteja a receber o suficiente, os investigadores têm relatado cada vez mais baixos níveis de iodo em mulheres grávidas e outras pessoas, levantando preocupações sobre o impacto nos seus recém-nascidos.

E há também um número muito pequeno, mas crescente, de relatos de deficiência de iodo em crianças.

“Isto precisa de estar no radar das pessoas”, alertou Monica Serrano-Gonzalez, médica da Universidade Brown, em Providence, Rhode Island.

O iodo é um oligoelemento que se encontra na água do mar e em alguns solos – principalmente nas zonas costeiras. Um químico francês descobriu-o acidentalmente em 1811, quando uma experiência com cinzas de algas marinhas criou uma nuvem roxa de vapor.

O nome iodo vem de uma palavra grega que significa cor violeta.

Mais tarde, nesse século, os cientistas começaram a compreender que as pessoas precisam de certas quantidades de iodo para regular o seu metabolismo e permanecerem saudáveis, e que é crucial para o desenvolvimento da função cerebral nas crianças.

Um sinal de insuficiência de iodo é o inchaço do pescoço, conhecido como bócio. A glândula tiroide no pescoço utiliza iodo para produzir hormonas que regulam a frequência cardíaca e outras funções do corpo. Quando não há iodo suficiente, a glândula tiroide aumenta de tamanho à medida que acelera para compensar a falta de iodo.

Os especialistas em saúde pública perceberam que não podiam resolver o problema alimentando toda a gente com algas e marisco, mas aprenderam que o iodo pode ser essencialmente pulverizado no sal de cozinha.

O sal iodado foi disponibilizado pela primeira vez em 1924. Na década de 1950, mais de 70% dos lares dos EUA utilizavam sal de cozinha iodado. O pão e alguns outros alimentos também foram enriquecidos com iodo, e a deficiência de iodo tornou-se rara.

Mas as dietas mudaram. Os alimentos processados constituem agora uma grande parte da dieta americana e, embora contenham muito sal, não são iodados. As principais marcas de pão já não adicionam iodo. Para as pessoas que salgam a comida, o habitual agora é usar sal kosher, sal-gema dos Himalaias ou outros produtos não iodados.

“As pessoas esqueceram-se porque é que existe iodo no sal”, frisou Elizabeth Pearce, do Boston Medical Centre, que é líder da Iodine Global Network, uma agência não governamental que trabalha para eliminar os distúrbios por deficiência de iodo.

Pearce observou uma queda relatada de 50% nos níveis de iodo nos EUA entre os norte-americanos inquiridos entre as décadas de 1970 e 1990.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Promessas por cumprir: continua a falta serviços de reumatologia no SNS

“É urgente que sejam cumpridas as promessas já feitas de criar Serviços de Reumatologia em todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde” e “concretizar a implementação da Rede de Reumatologia no seu todo”. O alerta foi dado pela presidente da Associação Nacional de Artrite Reumatoide (A.N.D.A.R.) Arsisete Saraiva, na sessão de abertura das XXV Jornadas Científicas da ANDAR que decorreram recentemente em Lisboa.

Consignação do IRS a favor da LPCC tem impacto significativo na luta contra o cancro

A Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) está a reforçar o apelo à consignação de 1% do IRS, através da campanha “A brincar, a brincar, pode ajudar a sério”, protagonizada pelo humorista e embaixador da instituição, Ricardo Araújo Pereira. Em 2024, o valor total consignado pelos contribuintes teve um impacto significativo no apoio prestado a doentes oncológicos e na luta contra o cancro em diversas áreas, representando cerca de 20% do orçamento da LPCC.

IQVIA e EMA unem forças para combater escassez de medicamentos na Europa

A IQVIA, um dos principais fornecedores globais de serviços de investigação clínica e inteligência em saúde, anunciou a assinatura de um contrato com a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para fornecer acesso às suas bases de dados proprietárias de consumo de medicamentos. 

SMZS assina acordo com SCML que prevê aumentos de 7,5%

O Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) assinou um acordo de empresa com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) que aplica um aumento salarial de 7,5% para os médicos e aprofunda a equiparação com a carreira médica no SNS.

“O que está a destruir as equipas não aparece nos relatórios (mas devia)”

André Marques
Estudante do 2º ano do Curso de Especialização em Administração Hospitalar da ENSP NOVA; Vogal do Empreendedorismo e Parcerias da Associação de Estudantes da ENSP NOVA (AEENSP-NOVA); Mestre em Enfermagem Médico-cirúrgica; Enfermeiro especialista em Enfermagem Perioperatória na ULSEDV.

DGS Define Procedimentos para Nomeação de Autoridades de Saúde

A Direção-Geral da Saúde (DGS) emitiu uma orientação que estabelece procedimentos uniformes e centralizados para a nomeação de autoridades de saúde. Esta orientação é aplicável às Unidades Locais de Saúde (ULS) e aos Delegados de Saúde Regionais (DSR) e visa organizar de forma eficiente o processo de designação das autoridades de saúde, conforme estipulado no Decreto-Lei n.º 82/2009.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights