Ciclo do medicamento representa 20% das emissões de gases com efeito de estufa na saúde

9 de Janeiro 2025

O ciclo do medicamento representa cerca de 20% das emissões de gases com efeito de estufa no setor da saúde, estima hoje um relatório, que alerta para a falta de orientações sobre práticas mais sustentáveis no uso de medicamentos.

Segundo o primeiro relatório do Observatório Português da Saúde e Ambiente, foram dispensadas em Portugal, em 2022, mais 180 milhões de embalagens de medicamentos nas farmácias comunitárias, a que se somam cerca de 274 milhões de unidades (ampolas, comprimidos, cápsulas, entre outros) utilizadas e cedidas em hospitais.

“A nível nacional não existem ainda evidências de intervenções orientadas para um uso ambientalmente mais sustentável do medicamento e ainda não estão desenvolvidas orientações para o sistema de saúde ou para os seus profissionais em relação ao (re)conhecimento do impacto ambiental das suas opções terapêuticas e do seu papel num uso mais responsável de medicamentos e produtos de saúde”, alerta o relatório, que será apresentado hoje na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Para os autores do Relatório Saúde e Ambiente 2024, a política do medicamento deverá também espelhar as crescentes preocupações ambientais, nomeadamente, pela inclusão da dimensão ambiental no conceito de “uso racional” do medicamento, pelo incentivo a boas práticas ambientais no setor, pela valorização da dimensão ambiental na seleção de medicamentos e pelo reforço da recolha de medicamentos e dispositivos não usados.

O documento promovido pelo Conselho Português para a Saúde e Ambiente (CPSA) destaca também que “as atuais abordagens políticas em matéria de gestão de resíduos farmacêuticos são inadequadas para a proteção da qualidade da água e dos ecossistemas de água doce dos quais depende a saúde das populações”.

Analisando o impacto dos inaladores que utilizam gases com efeito de estufa (GEE), o relatório refere que a sua pegada carbónica foi estimada em mais de 30.236 toneladas de CO2eq (dióxido de carbono).

No caso dos gases anestésicos, não existe em Portugal uma monitorização oficial dos seus consumos e pegada ambiental.

Relativamente ao desperdício alimentar, os especialistas referem que, apesar de ser responsável, a nível global, por 10% das emissões de GEE, “continua a haver desperdício nos hospitais portugueses com valores entre os 20 e os 50%”.

A nível do SNS, realçam que o Programa Eco-saúde tem-se centrado no consumo de energia, água, materiais e renovação de edifícios deixando de fora áreas de elevado impacto ambiental, como a alimentação, os gases anestésicos, a hemodiálise, os laboratórios de patologia clínica e o bloco operatório, entre outras.

“Apesar de tudo assiste-se à implementação de estratégias sérias e metas ambiciosas de redução da pegada ambiental em algumas organizações relacionadas com a saúde, particularmente no setor privado da saúde”, salientam.

Os especialistas destacam que também começa a haver no setor público ações na área da sustentabilidade ambiental, como é o caso da ULS Lisboa Norte, Matosinhos, Entre Douro e Vouga, entre outras.

Apontam ainda que a campanha de vacinação sazonal 2023/2024 nas farmácias comunitárias permitiu reduzir a emissão de CO₂e de 1.253 para 739 toneladas.

Contudo, afirmam, “a promoção da saúde e prevenção da doença, que diminuem a carga de doença e, como tal, o impacto ambiental da saúde, continua a ser subfinanciada em relação à média europeia (3,2% vs. 4,3%)”.

Os especialistas defendem medidas como reduzir o número anual de raios-X realizado em Portugal para a média dos países europeus (282 versus 158 por mil habitantes), o que poderia diminuir em mais de 11.884 toneladas de CO₂eq as emissões.

“Para compensar este excesso de CO₂ seria necessário plantar 534 mil árvores”, observa o documento que contou com a colaboração de quase 100 especialistas e instituições académicas e de investigação nacionais.

NR/HN/Lusa

 

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