Abuso infantil afeta epigenoma do esperma e desenvolvimento cerebral da geração seguinte

11 de Janeiro 2025

Um grupo de investigadores da Universidade de Turku (Finlândia) e da Universidade de Copenhaga (Dinamarca) descobriu que o abuso infantil pode afetar o epigenoma do esperma, influenciando negativamente o desenvolvimento cerebral da geração seguinte.

O estudo FinnBrain encontrou níveis mais baixos de metilação do ADN do esperma em três regiões do ADN e níveis alterados de várias pequenas moléculas de ARN não codificantes em homens com elevados níveis de abuso na infância, em comparação com homens que tiveram poucas experiências de abuso, de acordo com experiências partilhadas em questionários.

Esta herança epigenética refere-se à transmissão de informação sobre condições adquiridas à geração seguinte sem que estas sejam codificadas na sequência de ADN, pelo que as alterações causadas pelo ambiente podem ser transmitidas de geração para geração através de gâmetas, noticiou na sexta-feira a agência Europa Press.

Embora todas as células do organismo tenham os mesmos genes e ADN, têm perfis epigenéticos distintos, que determinam o seu aspeto e função diferentes, pelo que a regulação epigenética permite diferenças nas células cerebrais, musculares e da pele, silenciando e ativando genes, que têm um papel especial nas gerações posteriores.

Anteriormente, os cientistas do estudo já tinham encontrado uma associação entre a exposição ao ‘stress’ paterno na primeira infância e o desenvolvimento cerebral infantil, bem como que os maus-tratos na infância estavam associados a diversas características epigenéticas dos espermatozoides que podem mediar os efeitos no desenvolvimento cerebral das crianças, incluindo os níveis de expressão da molécula de RNA não codificante ‘hsa-miR-34c-5p’ e a metilação dos genes ‘CRTC1’ e ‘GBX2’.

“A seguir, queremos estudar o abuso infantil, o epigenoma do esperma e as características da descendência em conjunto. Demonstrar a herança epigenética em humanos reescreveria as regras de herdabilidade, o que realça a necessidade de mais investigação”, frisou o primeiro autor do artigo, Jetro Tuulari.

A investigadora principal do estudo, Noora Kotaja, referiu que este é o “maior” e “mais abrangente” estudo realizado até à data sobre a herança epigenética através do epigenoma do esperma em humanos.

“A coorte FinnBrain e outros dados multigeracionais do Population Research Centre permitirão outros estudos semelhantes de alta qualidade sobre a herança epigenética humana. No entanto, a herdabilidade destas descobertas ainda tem de ser demonstrada, pelo que é necessária mais investigação”, explicou o professor emérito Hasse Karlsson, que iniciou o estudo mencionado.

Lançado em 2010, o FinnBrain é um estudo de coorte de nascimento na Universidade de Turku que envolve mais de 4.000 famílias que visa explorar os fatores ambientais e genéticos que influenciam o desenvolvimento de uma criança. O estudo dos pais da coorte é também uma parte fundamental da investigação do projeto, e este subestudo centra-se na saúde paterna na coorte.

lusa/HN

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