Gravidezes tardias, sem assistência e prematuridade associadas a paralisia cerebral

14 de Janeiro 2025

Um estudo feito entre 2001 e 2015 concluiu que a prematuridade, nascer sem assistência médica adequada e a gravidez em idade tardia foram os fatores de risco de paralisia cerebral (PC) em recém-nascidos mais frequentes em Portugal.

Segundo o relatório do Programa de Vigilância Nacional da Paralisia Cerebral em Portugal (PVNPC), o risco de as crianças nascidas em Portugal terem paralisia cerebral manteve-se estável no período do estudo, que abrangeu 2.700 crianças, registando-se 1,7 casos por 1.000 nados-vivos.

O coordenador da equipa do Programa, Daniel Virella explicou à Lusa que a PC é detetada logo à nascença mas a notificação ocorre apenas aos 5 anos com o intuito de vigilância populacional.

“Só nessa idade podemos detetar se é uma situação progressiva, de agravamento progressivo e, nesse caso, que não é uma paralisia cerebral, ou então é uma lesão estática e estamos perante uma paralisia cerebral”, explicou o especialista.

E prosseguiu: “a PC só se manifestará quando houver uma competência que tem de se expressar. Por exemplo, uma pessoa só vê que não consegue andar quando tem idade para andar”.

O 6.º Relatório, denominado “Paralisia Cerebral em Portugal no Século XXI. Risco e Funcionalidade”, vai ser apresentado no dia 21, às 15:00, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

No caso dos bebés prematuros, detalha o relatório, “a grande prematuridade (28 a 31 semanas de gravidez) e a extrema prematuridade (menos de 28 semanas de gravidez) aumentaram o risco de PC respetivamente 47 vezes e 81 vezes, comparando com as crianças nascidas a termo (37 ou mais semanas de gravidez)”.

Quanto às gravidezes, “comparados com os filhos de mães entre os 20-34 anos, as mães com menos de 20 anos tiveram um risco 30% maior de ter uma criança com PC, diminuindo para 15% nas mães entre 35 e 39 anos, e subindo para 50% nas mães entre os 40 e os 44 anos enquanto nas progenitoras com mais de 44 anos o risco foi três vezes maior”.

Nos nascimentos sem assistência adequada, “o parto em casa, no ‘transporte’ ou numa instituição de saúde sem maternidade, embora registado com pouca frequência em Portugal, teve uma estimativa de aumento de 12 vezes do risco de PC”.

O relatório concluiu também que “ser o primeiro filho, ser rapaz, nascer leve para o tempo de gravidez e a presença de malformação congénita também se associaram a maior risco de PC” bem como “a PC causada por acidente vascular cerebral (AVC), nomeadamente nos períodos pré e perinatal. A proporção destes diagnósticos duplicou no período em análise (5% vs 11%), provavelmente pelo maior acesso ao diagnóstico pela neuroimagem”.

O estudo indica ainda que “em 8% das crianças com PC foi identificado um evento pós-neonatal como causa da PC (infeção, complicação de intervenção clínica, AVC)” e que se “verificou maior risco de PC nos concelhos com maior privação socioeconómica, num aumento de risco estimado em 25%”.

“A privação socioeconómica nos concelhos de residência das mães na altura do nascimento foi estimado pela versão portuguesa do European Deprivation Índex”, é sublinhado no documento.

O PVNPC informa, todavia, que a “avaliação do risco perinatal de PC é dificultada pela falta de dados populacionais” e que o “início do registo de casos submetidos a hipotermia induzida e a implementação do seu registo nacional contribuirão para maior conhecimento sistemático desta causa de PC”.

Segundo o ‘site’ da Sociedade Portuguesa de Pediatria, a hipotermia induzida, que consiste no arrefecimento controlado da temperatura corporal a 33,5ºC durante 72 horas, consiste num tratamento standard na asfixia perinatal, desde que iniciada precocemente após o nascimento.

Daniel Virella esclareceu que o início dos registos “deverá acontecer ao longo do corrente ano” após a assinatura, no dia da apresentação do relatório, do protocolo entre o Instituto Nacional Ricardo Jorge e a Sociedade Portuguesa de Pediatria.

lusa/HN

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