Comissão independente analisa condenação de enfermeira britânica por homicídio de bebés

4 de Fevereiro 2025

Uma comissão independente para os erros judiciais vai analisar o caso da enfermeira britânica condenada a prisão perpétua pelo homicídio de recém-nascidos quando médicos questionam os relatórios dos peritos que levaram à sua condenação.

Trata-se do caso de Lucy Letby, enfermeira de 35 anos condenada a prisão perpétua em agosto de 2023, pena confirmada em 2024, pelo homicídio de sete bebés e pela tentativa de assassínio de outros sete na unidade de cuidados intensivos no Hospital Countess of Chester, no noroeste de Inglaterra, entre 2015 e 2016.

O julgamento da mulher, descrita como a pior assassina de crianças na história moderna do Reino Unido, durou dez meses e horrorizou os britânicos, mas os seus advogados afirmaram sempre ser um erro judicial.

Os advogados da enfermeira, que sempre defendeu a sua inocência, avançaram hoje com um derradeiro recurso junto da Comissão de Revisão de Processos Criminais (CCRC, sigla no original).

“Recebemos um pedido preliminar relativo ao caso da Sra. Letby, que começou a ser avaliado”, confirmou hoje o CCRC, um processo que levará algum tempo devido ao “grande volume de provas”. No final da sua análise, o CCRC poderá decidir remeter o caso para o tribunal de recurso.

No julgamento foi explicado que a enfermeira tinha injetado ar no sangue dos recém-nascidos, provocando embolias gasosas (obstruções da circulação do sangue devido a bolhas de ar) seguidas de morte súbita.

Um artigo científico sobre este assunto, escrito em 1989 pelo médico canadiano Shoo Lee, foi amplamente utilizado durante o primeiro julgamento de Lucy Letby.

Mas hoje o especialista apresentou, em Londres, as conclusões de um painel de 14 peritos médicos internacionais, que põem em causa a condenação da enfermeira.

“Não encontrámos nenhum homicídio. Em todos os casos, as mortes ou ferimentos deveram-se a causas naturais ou simplesmente a cuidados médicos deficientes”, defendeu Shoo Lee, atualmente reformado, numa conferência de imprensa.

Na sua opinião, a descoloração dos bebés não era prova suficiente para concluir que se tratava de uma embolia gasosa, um argumento que o médico já tinha tentado apresentar, sem sucesso, durante o primeiro recurso da enfermeira em maio de 2024.

A intervenção do especialista foi recusada uma segunda vez em outubro pelos tribunais britânicos.

O ex-ministro conservador David Davis, que apoiou um novo julgamento e participou na conferência de imprensa, afirmou que as condenações de Lucy Letby foram “uma das maiores injustiças dos tempos modernos”.

LUSA/HN

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