Bastonário dos médicos quer mais “capacidade de decisão” para quem trabalha no SNS

20 de Fevereiro 2025

O bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Carlos Cortes, defendeu hoje mais “capacidade de decisão” para quem trabalha no Serviço Nacional de Saúde, de forma a evitar casos como o da recusa de socorro do hospital de Évora.

“Em tudo na vida, nas várias áreas de intervenção, até do Estado, nomeadamente na área da saúde, não é possível estar tudo definido e regulado em processos e procedimentos”, afirmou o responsável, em declarações à agência Lusa.

Carlos Cortes considerou que quem trabalha nas unidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS) deve ter “a capacidade para poder imediatamente decidir perante um acontecimento que não está descrito” nos procedimentos.

“Não sei, neste caso, se foi um problema administrativo ou clínico. Seja ele qual for, perante este tipo de situações de exceção, tem de haver a capacidade para as pessoas imediatamente poderem decidir e decidir sempre em benefício do doente”, vincou.

O bastonário da OM falava a propósito da ausência de socorro imediato do hospital de Évora, quando, na terça-feira, um homem que se sentiu mal perto da unidade hospitalar.

Nas declarações à Lusa, o responsável revelou que a Ordem já pediu esclarecimentos sobre o episódio à unidade hospitalar para perceber o que aconteceu.

“É uma situação tão inédita, tão inesperada, tão surpreendente que tem de ter, espero eu, uma explicação lógica”, disse.

Desconhecendo a situação clínica do homem que se sentiu mal junto ao hospital de Évora, Carlos Cortes alertou que, tendo em conta o que foi noticiado, o caso “poderia ter tido um desfecho muito negativo”.

“Eu acho que é de uma enorme desumanidade uma pessoa estar a pedir socorro a uma unidade de saúde no nosso país, quando está exatamente num local que lhe pode resolver imediatamente um problema, que lhe pode salvar a vida”, sublinhou.

O bastonário realçou que, se se tratou de uma situação da AVC (Acidente Vascular Cerebral), “era efetivamente uma situação que tinha de ser tratada imediatamente no hospital”, insistindo que é preciso explicações da unidade hospitalar.

“Espero que haja uma explicação lógica para tudo isto, porque este tipo de situações não pode acontecer e isto tem de levar a uma grande reflexão sobre alguma capacidade de decisão que tem de ser dada às pessoas”, acrescentou.

O caso já levou à abertura de inquéritos por parte do Ministério Público (MP) e da Inspeção-Geral das Atividade em Saúde (IGAI) para apurar os factos.

Na manhã de terça-feira, a SIC noticiou que o hospital de Évora recusou o socorro a um homem que se sentiu mal e caiu a poucos metros da urgência.

Segundo o canal televisivo, as pessoas que passavam na rua pediram auxílio ao hospital, que estava a cerca de 20 metros de distância, mas foi-lhes respondido que teriam de ligar para o número de emergência 112.

A ambulância chegou ao local 20 minutos depois, fazendo o transporte do homem até à urgência hospitalar, situada do outro lado da rua.

De acordo com a SIC, o homem terá tido um princípio de acidente vascular cerebral (AVC).

A Unidade Local de Saúde do Alentejo Central (ULSAC), que gere o hospital de Évora, ainda não se pronunciou sobre o caso.

NR/HN/Lusa

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Estudante do 2º ano do Curso de Especialização em Administração Hospitalar da ENSP NOVA; Vogal do Empreendedorismo e Parcerias da Associação de Estudantes da ENSP NOVA (AEENSP-NOVA); Mestre em Enfermagem Médico-cirúrgica; Enfermeiro especialista em Enfermagem Perioperatória na ULSEDV.

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