Investigadores da FMUP testam fármaco promissor no tratamento da infertilidade

24 de Fevereiro 2025

Um grupo de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) está a testar um fármaco que poderá reverter a infertilidade associada à endometriose, doença responsável por dor e incapacidade nas mulheres, foi hoje divulgado.

Salvaguardando que, para já, os testes decorrem em modelo animal, a FMUP antecipa que a descoberta poderá abrir caminho a novas abordagens terapêuticas na prática clínica.

O grupo acredita que “a metformina, um antidiabético oral usado há muitos anos na diabetes tipo 2 para controlar os níveis de açúcar no sangue (glicemia), é eficaz a tratar a infertilidade” e aponta para “outros efeitos benéficos do fármaco na endometriose, o que, no futuro, poderá levar ao seu reaproveitamento”, lê-se no resumo enviado à Lusa.

Recordando que, atualmente, os tratamentos mais eficazes para a endometriose têm de ser descontinuados antes da gravidez, a investigadora Delminda Neves sublinha a importância de saber que, caso haja recomendação para a prescrição deste fármaco na endometriose, este “pode ser usado na preconceção e na gravidez”.

A infertilidade associada à endometriose será explicada, pelo menos em parte, pelas características do endométrio, camada que reveste o útero e que, nestas mulheres, está alterado, o que dificulta ou impede a gestação, mas também por razões sistémicas, envolvendo diferentes órgãos e tecidos, como é o caso do tecido adiposo.

A FMUP explica que a equipa de Delminda Neves já havia constatado, no passado, que o tecido adiposo visceral (na zona abdominal e pélvica) sofre alterações da sua forma e da sua função, como um aumento de moléculas pró-inflamatórias e um gasto mais rápido de energia (hipermetabolismo), tal como acontece no cancro, por exemplo.

Esta conclusão resultou da análise molecular a tecidos de mulheres com endometriose, no âmbito de uma colaboração com a Unidade Local de Saúde de São João e do trabalho desenvolvido por José Pedro Abobeleira no Mestrado Integrado em Medicina da FMUP.

“Havendo outros órgãos a influenciar a progressão da endometriose, poderão surgir fármacos que tenham como alvo não somente a regulação de hormonas como o estrogénio, como acontece atualmente, mas que atuem também no tecido adiposo. A metformina é, por isso, um forte candidato”, acrescenta a investigadora.

O grupo vai agora tentar perceber se este fármaco, para além de controlar a endometriose, poderá ser utilizado também para prevenir a possível progressão para tumores, como o cancro do endométrio e o cancro do ovário.

A equipa que desenvolveu estes trabalhos é composta por vários investigadores da FMUP e do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde.

LUSA/HN

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