Molécula do bambu contribui para o vegetarianismo dos pandas gigantes

1 de Março 2025

Os pandas gigantes, apesar de terem um sistema digestivo típico dos carnívoros, alimentam-se sobretudo de bambu e um grupo de cientistas descobriu que uma molécula contida nesta planta entra na corrente sanguínea destes animais, induzindo-os a tornarem-se herbívoros.

Todos os organismos vivos possuem ADN, que armazena a informação genética de uma célula, e ARN, que transporta e transfere essa informação.

Os microRNAs (miRNAs) são pequenos RNA que regulam a expressão genética e desempenham um papel fundamental em todos os processos celulares, incluindo o desenvolvimento, a função e a sobrevivência. No caso das plantas, os miRNAs podem ser absorvidos através dos alimentos.

Investigadores chineses descobriram que o miRNA do bambu entra nos sistemas dos pandas gigantes e regula a sua expressão genética, ajudando-os a adaptarem-se a uma dieta baseada em vegetais, noticiou na sexta-feira a agência Efe.

Os pandas gigantes desenvolveram, de facto, diversas características adaptativas que lhes permitem viver destas plantas, como uma espécie de polegar para agarrar o bambu e dentes achatados adequados para o esmagar.

“Mostrámos que os miRNAs derivados de plantas estão presentes no sangue dos pandas gigantes e influenciam os seus hábitos alimentares”, explicou Feng Li, investigador da Universidade da China Ocidental e principal autor do estudo publicado na sexta-feira na Frontiers in Veterinary Science.

Nas suas experiências, os investigadores recolheram amostras de sangue de sete pandas gigantes, incluindo três fêmeas adultas, três machos adultos e uma fêmea jovem. Neles, encontraram 57 miRNAs provenientes do bambu.

“Os microRNAs de bambu podem entrar no corpo dos pandas gigantes através da dieta, ser absorvidos pelo intestino, entrar na corrente sanguínea e depois regular o momento da transferência de informação genética do RNA do panda gigante”, acrescentou Li.

Estes miRNAs derivados de plantas podem regular diferentes processos fisiológicos, como o crescimento e desenvolvimento, os ritmos biológicos, o comportamento e as respostas imunitárias.

No caso dos pandas gigantes, os investigadores observaram que o miRNA do bambu também intervém na regulação do olfato e do paladar, que estão intimamente relacionados com os seus hábitos alimentares.

Os investigadores acreditam que à medida que os pandas crescem e comem mais bambu, certos miRNAs acumulam-se, modulando a expressão genética e contribuindo para a adaptação ao sabor do bambu.

Estes miRNAs também podem influenciar o olfato dos pandas gigantes, permitindo-lhes selecionar os pedaços de plantas mais frescos e nutritivos.

“Os miRNAs de bambu podem facilitar a adaptação de pandas gigantes de uma dieta carnívora para uma dieta baseada em vegetais”, detalhou o investigador chinês, em comunicado.

O próximo passo da investigação, de acordo com os autores, será analisar mais amostras de sangue de pandas jovens que ainda não comeram bambu.

lusa/HN

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