Os investigadores do GIMM (sigla em inglês), que resultou da fusão do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) e o Instituto de Medicina Molecular (IMM), pretendem criar uma ferramenta de diagnóstico não invasiva, identificando biomarcadores que permitam melhorar a deteção do cancro colorretal, personalizar tratamentos e reduzir os custos de saúde.
Além disso, os resultados fornecerão informação importante sobre a ligação entre o estilo de vida, a dieta e alterações do microbioma na progressão deste tipo de cancro, que é o de maior incidência em Portugal e a segunda principal causa de morte por cancro no país.
Os investigadores do Laboratório Translacional de Microbioma na Saúde e Doença pretendem igualmente desenvolver uma plataforma de Inteligência Artificial baseada no microbioma para melhorar o diagnóstico precoce, integrando dados do microbioma com informação clínica e de estilo de vida.
Durante um ano serão recrutados 400 doentes com diagnóstico recente de cancro colorretal, com idades entre 40 e 74 anos, que não tenham iniciado qualquer tratamento.
As amostras fecais serão recolhidas em três fases: no momento do diagnóstico e entrada no estudo; após a conclusão de cada regime terapêutico – como quimioterapia neoadjuvante, cirurgia e/ou quimioterapia adjuvante – e três anos após o diagnóstico.
Serão também recolhidos dados sobre o estilo de vida e hábitos alimentares dos participantes, através de questionários.
“O microbioma intestinal será analisado utilizando sequenciação metagenómica, permitindo a caracterização das espécies microbianas”, explicou fonte do GIM, acrescentando que esta análise “visa identificar correlações entre a composição do microbioma e os resultados clínicos, incluindo respostas terapêuticas e taxas de sobrevivência”.
O estudo será coordenado por Ana Santos Almeida, investigadora principal do Laboratório Translacional de Microbioma na Saúde e Doença do Gulbenkian Institute for Molecular Medicine (GIMM-CARE) e envolve uma equipa de microbiologistas clínicos, biólogos computacionais, nutricionistas e gastrenterologistas.
De acordo com dados mais recentes, são registados mais de 10.500 novos casos anuais de cancro colorretal em Portugal, resultando numa média de 12 mortes/dia.
Nos últimos anos, os especialistas têm observado um “aumento preocupante” da incidência e mortalidade por cancro colorretal nos jovens.
A informação divulgada indica que apenas 25% dos casos apresentam história familiar, sugerindo que os fatores ambientais e o estilo de vida desempenham “um papel significativo”.
As dietas pobres em fibra e ricas em gorduras saturadas e carnes processadas, obesidade, consumo de álcool, sedentarismo, stress e inflamação gastrointestinal crónica são apontados como responsáveis por 70% a 90% do risco de cancro colorretal.
No espaço de 10 anos, a frequência de diagnósticos em pessoas mais jovens passou de 5% para 10% de todos os novos casos de cancro colorretal. Prevê-se um aumento superior a 140% até 2030.
Segundo o World Cancer Research Fund, 47% de todos os casos de cancro colorretal poderiam ser prevenidos através de modificações no estilo de vida, nomeadamente alterações na dieta e aumento da atividade física.
Estes fatores estão também associados a alterações no microbioma intestinal, que difere significativamente entre doentes com cancro colorretal e pessoas saudáveis.
Na informação hoje divulgada, os investigadores do GIMM lembram que o microbioma intestinal – a comunidade de biliões de microrganismos que habitam o intestino humano – “pode modular a progressão tumoral através da produção de metabolitos que influenciam respostas imunitárias ou criam ambientes anti-tumorais”, tornando-se assim um “alvo promissor” para a deteção e prevenção do cancro colorretal.
NR/HN/Lusa
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