Investigadores da FMUP alertam para consequências da suplementação sem aconselhamento

28 de Março 2025

Os vegetarianos que consomem ovos e laticínios estão menos protegidos contra a perda de massa muscular e a razão pode estar na toma de suplementos sem aconselhamento, segundo um estudo hoje revelado.

O estudo, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), “vem mostrar que têm de existir, em Portugal, orientações especificas para as pessoas que querem adquirir certos padrões alimentares. O vegetarianismo está largamente a aumentar. E não há nada de mal nisso se for planeado corretamente, salvaguardando os desequilíbrios nutricionais”, defendeu a professora Elisa Keating.

Na base deste alerta estão os resultados do VeggieNutri, um estudo publicado na revista científica Nutrients que está a ser desenvolvido na FMUP desde 2022, com o objetivo de avaliar a qualidade das escolhas alimentares de vegetarianos e não vegetarianos.

Os resultados indicam que a dieta vegetariana, que inclui ovos, leite e derivados e exclui a carne, pescado e derivados (ovolactovegetariana), está associada a uma maior percentagem de massa gorda (mais 4%) e a uma menor percentagem de massa muscular (menos 2%) quando comparada com a dieta omnívora, que inclui produtos de origem vegetal e animal.

Já os veganos, apesar consumirem menos proteínas, tinham mais massa muscular, uma conclusão que surpreendeu a equipa de investigação.

“Estávamos à espera (…) que quem tivesse menos massa muscular fossem os veganos e percebemos que os ovolactovegetarianos têm maior massa gorda”, descreveu a investigadora.

Elisa Keating descreveu à Lusa que “para tentar perceber esta conclusão, a equipa comparou os grupos e percebeu uma diferença muito importante: o perfil de suplementação vitamínica e mineral”.

“Os veganos, como nós esperávamos, são aqueles que fazem mais frequentemente suplementação com vitamina B12 [vitamina recomendável nos veganos porque vem dos alimentos de origem animal]. Os ovolactovegetarianos, surpreendentemente, mesmo não havendo orientações de saúde para tal, mostram maior prevalência de suplementação de ferro”, descreveu a docente e coordenadora do estudo.

No VeggieNutri, os investigadores analisaram características como o sexo, a idade, o estado metabólico e nutricional, bem como os estilos de vida numa amostra de mais de 400 voluntários saudáveis, com idades entre os 18 e os 64 anos.

Descrito pela FMUP como o primeiro estudo em Portugal a comparar os efeitos da adoção de diferentes dietas na composição corporal e em parâmetros de saúde metabólica, este estudo sugere associações entre suplementos nutricionais, inflamação e menor massa muscular.

Por exemplo, a suplementação com ferro, mais frequente nos ovolactovegetarianos, pode associar-se a uma maior inflamação sistémica e, não se refletindo num melhor estado nutricional de ferro, poderá contribuir para o agravamento da diminuição da massa muscular induzida pela menor ingestão proteica na dieta.

Esta conclusão faz “soar alarmes”, acrescentou a também investigadora e nutricionista Cátia Pinheiro, contando que “a prevalência da procura de aconselhamento nutricional é bastante baixa”.

“E em causa estão suplementos de venda livre. Podemos encontrá-los em qualquer superfície comercial. O facto destes suplementos serem tomados com base em pouco ou nenhum aconselhamento nutricional deve soar alarmes. É de facto uma preocupação”, referiu.

Aproveitando para recomendar a presença de nutricionistas nos cuidados de saúde primários, as investigadoras alertam para a falta de literacia global neste tema, apontando que perceberam até que há pessoas que não sabem sequer dizer especificamente qual o seu padrão alimentar.

“Há também muitos mitos que as pessoas assumem e a escolha do padrão alimentar sem aconselhamento reflete-se em desequilíbrios”, sublinhou Elisa Keating.

Cátia Pinheiro acrescenta: “As pessoas não estão empoderadas o suficiente para decidir o que é saudável ou não e precisam do apoio de especialistas”.

A equipa do VeggieNutri é composta por investigadores da FMUP, RISE-Health, Laboratório Associado RISE, entre outras instituições de ensino e investigação.

NR/HN/Lusa

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