“A questão da redução do financiamento ao nível mundial para a saúde poderá ter um impacto devastador, pelas consequências de os sistemas de saúde, que em muitos países já são frágeis, enfrentarem escassez ainda maiores das que já temos enfrentado”, disse o diretor-geral do Instituto Nacional de Saúde de Moçambique (INS), Eduardo Samo Gudo, na abertura da reunião da Rede de Institutos Nacionais de Saúde Pública da CPLP, que decorre em Maputo.
As organizações internacionais e de ajuda humanitária têm mostrado preocupação, nos últimos meses, devido à multiplicação de anúncios de cortes na ajuda internacional dos EUA.
A administração norte-americana, sob liderança de Donald Trump, eliminou 83% dos programas da agência de desenvolvimento USAID, ou seja, “dezenas de milhões de dólares”, que, até agora, geria um orçamento anual de 42,8 mil milhões de dólares (40 mil milhões de euros), o que representava 42% da ajuda humanitária desembolsada em todo o mundo.
Face aos sucessivos anúncios de cortes na ajuda, Samo Gudo alertou para o surgimento de novas doenças e para o agravamento das que já existem face à insuficiência de fundos para travar as mesmas.
“O apelo é global, é para todo o mundo, a sociedade internacional tem que olhar para a saúde como uma prioridade e os setores sociais devem continuar a estar no centro de atenções de todas as agendas globais”, disse o diretor-geral do INS de Moçambique.
A mesma preocupação foi apresentada pelo diretor executivo da rede dos institutos de saúde ao nível da CPLP, Félix Rosenberg, indicando que as ajudas que estão a ser retiradas eram essenciais para a realização de pesquisas para acompanhar, prever e tratar surtos de doenças e epidemias pelo mundo.
“Nesta reunião vamos tratar com muita ênfase a questão da segurança alimentar e nutricional, basicamente a fome, que é uma das grandes preocupações no mundo porque é seguramente uma das piores epidemias. Talvez muito pior que a covid-19, não chama tanta atenção, mas é das piores epidemias”, acrescentou Rosenberg.
A rede de Institutos Nacionais de Saúde Pública da CPLP nasceu em 2010 e desde então tem vindo a realizar encontros para debater questões de saúde pública dos países-membros e do mundo.
A reunião da rede dos institutos da CPLP acontece após a realização da dos Institutos Mundiais em Maputo, que terminou na quinta-feira com apelos para investimentos em saúde pública, incluindo na formação dos profissionais, para travar futuras pandemias que ameaçam o mundo, e à “solidariedade” dos países no combate a novas doenças.
Na lista de ameaças de futuras pandemias mundiais, os institutos mundiais elencaram como preocupações o alastramento de vírus emergentes, como dengue e chikungunya, em todos os continentes, o aumento a nível mundial de casos de mpox, o aumento da frequência de surtos de febres hemorrágicas em África, nomeadamente Ébola, Marburgo, hantavírus, entre outros, e o rápido alastramento de bactérias altamente resistentes aos antimicrobianos que reduzem as opções de tratamento medicamentoso das infeções.
lusa/HN
0 Comments