Prontidão para ir em missão e deixar a família é um dos desafios próprios dos enfermeiros militares

12 de Maio 2025

Os enfermeiros militares enfrentam desafios próprios, como o da prontidão para ir em missões a qualquer momento e deixar a família para ir ajudar quem precisa, por vezes durante meses.

“Às vezes custa um bocadinho deixar a nossa família e irmos seja para onde for, mas estamos sempre disponíveis para atuar quer a nível nacional, quer a nível internacional”, disse à Lusa a enfermeira militar Adriana Ribeiro, a propósito do dia internacional do enfermeiro, que hoje se assinala, e durante o exercício Orion 2025.

No Campo Militar de Santa Margarida, sede da Brigada Mecanizada, a capitão natural de Coimbra disse que sempre quis ser enfermeira e lembrou que o momento mais marcante que viveu foi na sua primeira missão, em 2001, na República Centro-Africana em que socorreu uma criança que foi atropelada por um carro.

“Fomos socorrer esta criança estabilizamos, fizemos o máximo que conseguíamos e que podíamos, sabendo que o prognostico não seria muito bom”, explicou a enfermeira.

Adriana Ribeiro disse que levaram a criança para o hospital, mas o posto não tinha portas, nem janelas e nem quaisquer condições, sendo que tiveram de pôr um pano duro no chão, porque não havia macas.

 “Foi difícil arranjarem-nos, por exemplo, um aspirador de secreções, um manual como eu nunca tinha visto na minha vida. Deixamos aquela a criança, mas sabíamos que se calhar o destino dela não seria o melhor e infelizmente soubemos passado uma semana que ela tinha acabado por morrer”, contou.

“Mas estou a fazer aquilo que eu gostava de fazer”, disse Adriana Ribeiro.

Daniel Jorge, enfermeiro militar e capitão técnico de saúde também a participar no Orion 25, disse à Lusa que nem sempre quis ser enfermeiro militar, mas o gosto pela profissão foi crescendo e optou por fazer carreira na área da saúde, valorizando as diferenças em relação à vertente civil da profissão.

O militar apontou que a maior diferença é a parte operacional, como enfrentar situações inesperadas, lidar com uma população distinta, com um tipo de cuidados que exige um “jogo de cintura diferente”.

“Não estás num hospital a trabalhar, onde tens uma equipa de médicos e enfermeiros, estás no terreno com uma equipa de saúde reduzida para dar resposta a muitos militares e em condições que não são as condições de um hospital com todos os equipamentos que existem num hospital”, disse Daniel Jorge, lembrando que há teatros de operações muito complicados.

“De um momento para o outro temos que ir para um teatro de operações com uma equipa de militares ao nosso cuidado e temos de dar resposta, porque eles contam connosco”, referiu.

Daniel Jorge adiantou que um grande desafio foi uma missão no Afeganistão, em 2010, numa zona complicada durante muitos meses, numa época em que ainda estava um conflito muito aceso.

O capitão-enfermeiro lembrou que na altura da tomada do poder pelos talibã, muitas pessoas tiveram de ser retiradas do Afeganistão, sobretudo crianças e idosos feridos e doentes e que não recebiam cuidados há muito tempo.

“Foi uma experiência muito boa, chegarmos lá, começarmos logo a dar resposta. Montámos também um dispositivo numas instalações que não estavam a ser utilizadas e rapidamente começamos a ver o pessoal que lá estava refugiado e a tratar deles”, indicou o militar.

Daniel Jorge disse que ajudou ainda militares e civis e que um dos prazeres da profissão é poder ajudar as pessoas que estão em situação de urgência e que se sente realizado.

E o ex-enfermeiro militar e presidente da Associação Portuguesa de Enfermeiros Militares (APEM), Jorge Pires, lembrou que os enfermeiros militares não puderam ter posições de decisão até 2015 quando foi aprovada uma lei que permitiu que enfermeiros ascendessem a carreiras de oficiais.

lusa/HN

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