Descoberta de tratamento oral de cancro na Fundação GIMM leva a acordo internacional

16 de Maio 2025

Uma descoberta realizada na Fundação GIMM (Instituto Gulbenkian de Medicina Molecular) "está no centro de um acordo internacional" com a farmacêutica Boehringer Ingelheim que pode revolucionar o tratamento oral de certos tipos de cancro, anunciou hoje a instituição.

Neste âmbito, a ‘startup’ de oncologia de precisão Tessellate Bio assinou um acordo de licenciamento global com a Boehringer Ingelheim para desenvolver terapias orais inovadoras.

O acordo de licenciamento global entre a Tessellate Bio – com sede em Naarden (Países Baixos) e laboratórios de investigação e desenvolvimento em Stevenage (Reino Unido) — e a farmacêutica Boehringer Ingelheim inclui financiamento para investigação, licenciamento e pagamentos por metas alcançadas, de acordo com o GIMM – Gulbenkian Institute for Molecular.

Em termos globais, “poderá ultrapassar os 500 milhões de euros” e passa por “desenvolver terapias orais inovadoras dirigidas a cancros ALT-positivos — um tipo agressivo de tumor que afeta até 15% dos doentes oncológicos e para o qual existem poucas opções de tratamento”.

Em 2019, a equipa de Claus Azzalin, investigador principal na Fundação GIMM e cofundador da ‘startup’ Tessellate Bio, publicou na revista Nature Communications uma descoberta: “a enzima FANCM é essencial para a sobrevivência de células cancerígenas que usam o mecanismo ALT (alongamento alternativo dos telómeros)”.

Ora, “esta vulnerabilidade inesperada abriu caminho a uma abordagem terapêutica completamente nova, protegida por patente antes da publicação”, refere o GIMM.

“Tudo nasceu de uma pergunta simples: como se comportam os telómeros em células cancerígenas? Não estávamos à procura de um medicamento — estávamos a tentar perceber como funcionam as extremidades dos cromossomas”, relata Claus Azzalin, citado no documento.

“Mas é isso que torna a ciência tão poderosa: compreender o básico pode levar a descobertas com impacto real”, sublinha.

Fundada em junho de 2020, após esforços de levantamento de capital junto de fundos de investimento especializados na fase de descoberta científica, a Tessellate Bio licenciou a propriedade intelectual estabelecida conjuntamente com base nas descobertas dos laboratórios de Claus Azzalin e de Hilda Pickett e Roger Reddell, do Children’s Medical Research Institute, na Austrália, refere o GIMM.

A Tessellate Bio é uma ‘startup’ de biotecnologia em fase pré-clínica, centrada em novas abordagens de letalidade sintética.

“Com o apoio de investidores europeus de topo, a empresa está a desenvolver uma abordagem de letalidade sintética que elimina apenas as células tumorais ALT — poupando as células saudáveis”, refere a entidade.

“É assim que começa a verdadeira inovação — com curiosidade científica profunda”, afirma Maria Manuel Mota, presidente executiva (CEO) do GIMM, citada no comunicado.

“No GIMM, acreditamos que a descoberta é a base da inovação. Esta história mostra como a ciência feita na Europa, quando tem espaço para arriscar, pode mesmo mudar vidas”, remata a cientista.

NR/HN/Lusa

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