Horta vertical reabilita utentes com doença mental no Hospital Júlio de Matos

17 de Junho 2025

Uma horta vertical hoje inaugurada no Hospital de Júlio de Matos, em Lisboa, pretende reabilitar 44 pessoas com anomalia psíquica, estimulando-as a reintegrar-se na sociedade e a desenvolverem competências laborais.

O projeto-piloto ‘Recultivar: semeando a reabilitação mental’ acontece com a vontade e o trabalho dos utentes da ala masculina do Serviço Regional de Psiquiatria Forense do centro hospitalar psiquiátrico da capital.

Em declarações à agência Lusa, o diretor do serviço, João Oliveira, explicou que o programa “se baseia muito no contacto com a natureza e no seu efeito sobre a saúde mental”, mas também na reinserção dos utentes.

“Além do trabalho na horta, terão formações de competências específicas”, observou, referindo que o projeto visa “retribuir à sociedade”.

De acordo com João Oliveira, parte do cultivo será para distribuir pelo espaço exterior da unidade hospitalar.

“Uma parte será para também vendida, parte da produção será para distribuir à sociedade (…)”, salientou.

O clínico indicou que a distribuição dos legumes cultivados será feita pelo Banco Alimentar, algumas associações do Parque de Saúde de Lisboa, como a Associação de Reabilitação e Integração Ajuda (ARRIA) e a Casa do Gil, ressalvando que “uma parte reduzida também será para venda para poder depois no futuro financiar o projeto”.

Depois de ter inaugurado em 2023 uma horta vertical no Estabelecimento Prisional de Torres Novas, em Santarém, a organização não governamental (ONG) Upfarming, que cria soluções agrícolas sustentáveis em ambientes urbanos, vê-se agora “a pilotar pela primeira vez na unidade forense do Hospital Júlio de Matos”.

“Nós aqui vamos estar a trabalhar com os 44 utentes desta unidade forense. No epicentro da nossa intervenção está a horta vertical, composta por 20 torres aeropónicas. Além disso, reabilitámos 18 canteiros que estavam abandonados, seguindo as técnicas de permacultura e agricultura regenerativa”, disse a cofundadora da Upfarming Margarida Villas-Boas.

A organização fez também um centro de compostagem e tem previsto passar à componente agroflorestal, que inclui a plantação de espécies autóctones a partir de setembro, adiantou.

A responsável assinalou que, além da parte prática, é dada uma formação certificada aos utentes através do Centro Protocolar da Justiça (CPJ) em competências sociais e pessoais e em agricultura sustentável.

“Os utentes poderão sair daqui com uma formação certificada para serem operadores agrícolas. E, por fim, em termos da produção, parte fica aqui, parte é distribuída junto dos familiares dos utentes e parte distribuída através de institutos de solidariedade, como a ARIA e a Casa do Gil, que já trabalham com a instituição”, sublinhou.

Em termos de adesão, Margarida Villas-Boas disse que o programa no Hospital Júlio de Matos “é possivelmente o mais gratificante”, afirmando que, desde o primeiro dia, “os utentes têm mostrado imenso entusiasmo”.

Edgar Alves, utente na unidade, explicou que está encarregue de regar os canteiros “de manhã e à noite”, dizendo que são plantadas vegetações como salsas, alfaces, alcegas e curgetes.

Sobre as plantações verticais, Edgar Alves anotou que o sistema de rega é automático.

“Não é preciso regar, porque é automático. [O sistema de rega] dispara de 10 em 10 minutos e depois descansa”, vincou, lembrando que tem mais colegas a trabalhar na horta.

“Sinto-me útil à sociedade e gosto de ver as coisas a florescerem e o meu trabalho a progredir”, sustentou.

Também feliz com o seu contributo, Edgar Pargana – outro utente – salientou a manutenção que é feita na horta e que dedica seis horas diárias ao projeto.

“No curso trabalho seis horas por dia, mas depois ando sempre a ver as plantas. Ando aqui a ver tudo. Ando a ver se as plantas têm fungos. Já tenho autorização para tratar dos fungos”, manifestou.

lusa/HN

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