Lisboa e Vale do Tejo perdeu este ano 154 médicos de família

15 de Setembro 2021

Lisboa e Vale do Tejo perdeu este ano 154 médicos de família, dos quais 92 por reforma, e prevê-se cerca de 100 aposentações por ano nos próximos dois anos, revelou esta quarta-feira a Administração Regional de Saúde da região.

“Perdemos 154 médicos entre janeiro e o começo de agosto, 92 por reforma, 45 por rescisão de contrato e os outros por questões menores”, afirmou o presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), Luís Pisco, no âmbito de uma audição na comissão parlamentar de Saúde, que decorreu por videoconferência, a requerimento do BE, sobre a falta de médicos de família na região e a incapacidade para solucionar o problema.

Aos deputados da Assembleia da República, em Lisboa, Luís Pisco reconheceu que a falta de médicos de família em Lisboa e Vale do Tejo (LVT) “é um problema que se arrasta há algum tempo”, apresentando dados entre 2009 e 2019, excluindo os dois anos de pandemia de Covid-19 que “são atípicos”, e indicando que nesses 10 anos “entraram na região 1.013 médicos e saíram 1.355”, o que resulta numa perda de 342 médicos.

“Temos em média à volta de 2.000 médicos de família na região de Lisboa, portanto nestes últimos anos temos andado às vezes perto dos 1.700, 1.800”, referiu o presidente da ARSLVT, acrescentando que o pior ano foi 2014, em que “entraram 53 médicos e saíram 196”, e “2016, 2017 e 2018 foram os únicos três anos neste ciclo de 12 [desde 2009 até ao momento] onde entraram mais médicos do que saíram, o que permitiu repor de alguma maneira este problema”.

Considerando que “é uma situação a nível nacional e internacional”, inclusive países como Canadá, França e Inglaterra enfrentam “enormes dificuldades em conseguir ter mais médicos de família”, Luís Pisco disse que um dos motivos é o facto de a especialidade de Medicina Geral e Familiar ser “cada vez mais difícil” e “uma carga de trabalho muito grande”, uma vez que existe uma população muito envelhecida e “os doentes são cada vez mais complexos”.

À falta de novos médicos de família junta-se a saída de profissionais que se reformam, prevendo-se que nos próximos dois anos se aposentem “à volta de 100 médicos” por ano na região de LVT, adiantou o responsável, argumentando que, “infelizmente, a demografia médica não é favorável”.

“Vamos continuar a tentar que essas pessoas não deixem totalmente o Serviço Nacional de Saúde. Se não puderem trabalhar 40 horas connosco, pelo menos trabalharem 20”, sugeriu o presidente da ARSLVT, explicando que a medida tem sido adotada com sucesso, conseguindo “manter muitos dos aposentados a continuar a trabalhar”, embora seja “obviamente uma solução transitória”.

Outra das questões apontadas foi o crescimento do número de imigrantes na região, porque “os quadros de pessoal dos centros de saúde não foram alargados em consonância com esse aumento de população”, expôs Luís Pisco.

Questionado sobre a formação de médicos desta especialidade na região de LVT, o presidente da ARSLVT adiantou que estão “800 pessoas em formação em Lisboa”, ressalvando que a capacidade formativa é dada pela Ordem dos Médicos, que tem de reconhecer que existem instalações com boas condições para formação e médicos especialistas que tenham capacidade de ser formadores.

Luís Pisco referiu que a região Norte se adiantou “muito mais cedo” na resolução do problema, porque “teve fundos comunitários e conseguiu fazer uma rede de centros de saúde de excelente qualidade”, situação que não aconteceu na região de LVT “por falta também de fundos comunitários”.

No entanto, nos últimos quatro a cinco anos foram construídos mais de 50 centros de saúde novos na região de LVT “e mesmo na cidade de Lisboa existe um ambicioso programa de construção de 14 novos centros de saúde, dos quais três ou quatro já estão em funcionamento, o que quer dizer que esta situação se irá reverter a médio prazo”, declarou o presidente da Administração Regional de Saúde.

“Em relação às capacidades formativas, apesar de tudo, temos aumentado bastante, por exemplo, a partir de 2015 passou a haver 160 e tal vagas, que foi o máximo que conseguimos esticar, portanto, temos toda a nossa capacidade em utilização”, reforçou.

Ainda que o problema persista, Luís Pisco garantiu: “não ter médico de família, que era aquilo que desejávamos para todas as pessoas da nossa região, não quer dizer que não tenham cuidados de saúde”.

LUSA/HN

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