Professores angolanos admitem “desestruturação” do ensino devido a interrupções

3 de Janeiro 2022

Professores angolanos consideraram esta segunda-feira que as constantes interrupções do ano escolar em Angola devido à covid-19 “desestruturam” o processo de ensino e criam “quebras psicológicas”, sobretudo para crianças e jovens, defendendo condições tecnológicas nos estabelecimentos de ensino.

Para o secretário-geral do Sindicato Nacional de Professores e Trabalhadores do Ensino não Universitário (Sinptenu), Victor Gimbi, que se diz preocupado com as interrupções das aulas, a Covid-19 “veio desestruturar o ritmo da vida social, económica, política e académica”.

“Nós sugerimos, desde o primeiro momento, que o Governo tinha de criar condições tecnológicas para que as escolas pudessem ter aulas em videoconferência, mas limitaram-se apenas a colocar álcool, gel e sabão e noutros casos água”, afirmou hoje Victor Gimbi, em declarações à Lusa.

O novo decreto presidencial sobre a situação de calamidade pública em Angola, em vigor desde as primeiras horas de hoje, suspende as aulas no ensino geral e universitário até ao dia 16 de janeiro, estando o seu reinício sujeito à avaliação da situação epidemiológica da Covid-19.

As aulas, após a pausa da quadra festiva, tinham o seu reinício previsto para esta segunda-feira, 03 de janeiro, mas o elevado número de novos casos da Covid-19, particularmente da variante Ómicron, levou as autoridades a atualizarem o decreto.

A medida, que abrange todos os estabelecimentos de ensino público e privado de Angola, vem expressa no decreto presidencial 316/21, que aprova a alteração de alguns artigos do decreto presidencial 315/21 de 24 de dezembro, publicado em Diário da República em 31 de dezembro de 2021.

Segundo Victor Gimbi, a não implementação de condições tecnológicas nas instituições de ensino em Angola é sintomático da “falta de compromisso do executivo para com o processo de ensino e aprendizagem”.

“Tanto é que leva as coisas muito de ânimo leve e ignora as sugestões dos sindicatos para esse período pandémico”, referiu.

O sistema de educação “foi estruturado de tal maneira que cria uma cadeia de informações para a aprendizagem da criança e do jovem e isso vai criar, objetivamente, uma ligação entre os conteúdos, caso seja regular”, realçou.

O secretário-geral do Sinptenu lamentou que as constantes interrupções do ciclo de aprendizagem dos alunos criem um “vazio e quebras psicológicas” para a regular absorção de conhecimentos.

“Colocamos novamente os meninos em casa a esvanecerem-se e psicologicamente temos quebras, porque a escola ocupa não só para as aprendizagens, mas para a socialização, a fraternidade, boas convivências (…). É isso que devemos adotar para não caírem no abismo”, apontou.

“A Covid-19 é sim uma preocupação que merece empenho de todos para combater, mas aqui apela-se à responsabilidade maior do executivo na adoção de medidas eficientes”, rematou Victor Gimbi.

Para conter a propagação da Covid-19, em Angola decorre igualmente o processo de vacinação de menores entre 12 e 17 anos e estes deverão apresentar o certificado ou cartão de vacinas no reinício das aulas.

Até domingo, Angola somava 82.920 casos de Covid-19, dos quais 1.722 resultaram em óbitos e tinha quase 4 milhões de pessoas totalmente vacinadas (12% da população alvo).

A Covid-19 provocou 5.441.446 mortes em todo o mundo desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.

A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em vários países.

Uma nova variante, a Ómicron, considerada preocupante e muito contagiosa pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foi detetada na África Austral, mas desde que as autoridades sanitárias sul-africanas deram o alerta, em 24 de novembro, foram notificadas infeções em pelo menos 110 países, sendo dominante em Portugal.

LUSA/HN

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