Utentes do Médio Tejo pedem “medidas extraordinárias e imediatas” para contratação de médicos

15 de Fevereiro 2022

A Comissão de Utentes da Saúde do Médio Tejo (CUSMT) defendeu esta terça-feira “medidas extraordinárias e imediatas” para a contratação de profissionais de saúde para os cuidados primários, sugerindo a criação de incentivos ou o recrutamento de estrangeiros.

José Manuel Soares, porta-voz da CUSMT, disse à Lusa que esta foi uma das questões abordadas na reunião realizada na segunda-feira com a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), a administração do Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT), a direção executiva do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Médio Tejo e um representante dos autarcas, na sequência da petição com mais de 7.500 assinaturas entregue, em janeiro, pela comissão, no Ministério da Saúde.

A reunião realizou-se por iniciativa do presidente da ARSLVT, Luís Pisco, realçando Manuel Soares o consenso entre todos os participantes quanto ao essencial das preocupações levantadas no abaixo-assinado e das propostas avançadas.

Em particular, salientou o reafirmar das dificuldades atualmente existentes na contratação de médicos e enfermeiros, o que, sublinhou, torna mais urgente, “pensar-se, a curto prazo, em medidas, que podem ser temporárias, de incentivos ou de contratação de profissionais estrangeiros”, a exemplo do que já se fez no passado.

Como exemplo da carência de profissionais existente na região, Manuel Soares referiu o concelho de Vila Nova da Barquinha (distrito de Santarém), onde as extensões de saúde estão encerradas quase há um ano e meio, funcionando apenas o Centro de Saúde.

O porta-voz da CUSMT salientou que, aos 22 médicos de família em falta na região é preciso juntar os 25 que atingem este ano a idade legal da reforma, sendo que os cuidados têm também sido afetados pelo conjunto de médicos infetados com o vírus que provoca a Covid-19, ou que tiveram contactos de risco, ou ainda que foram afetos a serviços relacionados com a pandemia, para além dos casos de gravidez de risco e de licenças de parentalidade.

A CUSMT insistiu, igualmente, no cumprimento da promessa, feita em 2019, de instalação dos consultórios de dentistas nos centros de saúde e que só agora “estão a dar alguns passos”, nomeadamente em Abrantes, Entroncamento, Ourém, Sardoal e Mação.

Contudo, alertou, os quadros de pessoal do Serviço Nacional de Saúde (SNS) não preveem a existência de dentistas, pelo que se está a recorrer a contratos temporários para responder ao que é “uma necessidade premente para grande parte da população”.

Uma das propostas avançadas foi a da realização de reuniões trimestrais entre as várias entidades, “no sentido de coordenar atividades, ganhar sinergias e poupar alguns meios”, afirmou.

Uma das situações a acompanhar é a das obras nas Urgência da unidade de Abrantes do CHMT, que a CUSMT gostaria que fosse acelerada, mas que reconhece ser preferível acautelar que não existam contestações ao concurso, de forma a garantir que “as obras começam, são bem feitas e no tempo determinado”.

A CUSMT insistiu, igualmente, na atribuição da urgência médico-cirúrgica a todas as três unidades do CHMT (Torres Novas, Tomar e Abrantes), acrescentou.

A questão da unidade de hemodinâmica, a necessidade do serviço de medicina física e de reabilitação na unidade de Tomar e as dificuldades de consultas de pedopsiquiatria são outros assuntos na ordem do dia, acrescentou.

Manuel Soares reafirmou a preocupação de uma efetiva promoção da saúde pública, considerando que uma aposta nos cuidados de proximidade, com a existência de extensões de saúde, unidades móveis, cuidados à comunidade, numa efetiva coordenação entre as diversas entidades, é fundamental para evitar que as pessoas fiquem doentes e “recorram, já em último caso, às urgências ou a consultas de recurso”.

“Um dos problemas da organização do SNS é que as diversas estruturas não conversem, não coordenem sua atividade”, disse, destacando a importância de reuniões como a que hoje [segunda-feira] se realizou em Torres Novas (Santarém) e dando o exemplo da prática adotada devido à pandemia, com reuniões regulares entre Segurança Social, Proteção Civil, Unidades de Saúde, permitindo, “bastantes vezes, dar resposta a uma série de situações que noutros casos não é habitual”.

“Propusemos que essa prática devia ser regular, de forma a identificar problemas no acesso aos cuidados de saúde e a tomar as medidas necessárias. As populações só teriam a ganhar”, disse, dando os exemplos dos transportes ou da utilização pelos cuidados primários de meios complementares de diagnóstico hospitalares, “alguns subutilizados”.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Daniel Ferro: Retenção de Médicos no SNS: Desafios e Estratégias

Daniel Ferro, Administrador Hospitalar na USF S. José, apresentou no 10º Congresso Internacional dos Hospitais um estudo pioneiro sobre a retenção de profissionais médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS). A investigação revela as principais causas de saída e propõe estratégias para melhorar a retenção de talentos.

Inovação Farmacêutica: Desafios e Oportunidades no Acesso a Novos Medicamentos

A inovação farmacêutica enfrenta desafios significativos no que diz respeito ao acesso e custo de novos medicamentos. Num cenário onde doenças como Alzheimer e outras condições neurodegenerativas representam uma crescente preocupação para os sistemas de saúde, o Professor Joaquim Ferreira, Vice-Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, abordou questões cruciais sobre o futuro da inovação terapêutica, os seus custos e o impacto na sociedade durante o 10º Congresso Internacional dos Hospitais, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hopitalar (APDH).

Desafios e Tendências na Inovação Farmacêutica: A Perspetiva de Helder Mota Filipe

O Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, Helder Mota Filipe, abordou os principais desafios e tendências na inovação farmacêutica durante o 10º Congresso Internacional dos Hospitais. A sua intervenção focou-se na complexidade de garantir o acesso a medicamentos inovadores, considerando as limitações orçamentais e as mudanças demográficas e epidemiológicas em Portugal

Carlos Lima Alves: Medicamentos Inovadores: O Desafio do Valor Sustentável

Carlos Lima Alves, Médico e Vice-Presidente do Infarmed, abordou a complexa questão dos medicamentos inovadores no 10º Congresso Internacional dos Hospitais, promovido pela Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH). A sua intervenção centrou-se na necessidade de equilibrar o valor dos medicamentos com os custos associados, destacando a importância de uma avaliação rigorosa e fundamentada para garantir que os recursos financeiros sejam utilizados de forma eficaz e sustentável.

Projeto Pioneiro em Portugal Aborda Gestão de Resíduos na Diabetes

A Unidade Local de Saúde de Matosinhos apresentou um projeto inovador sobre a gestão de resíduos resultantes do tratamento da diabetes, na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. O projeto “Diabetes e o meio ambiente” visa sensibilizar e capacitar pacientes e famílias para a correta separação de resíduos, contribuindo para a sustentabilidade ambiental.

MAIS LIDAS

Share This