“Atendendo a que se trata de um vírus respiratório e tendo também em conta o que aconteceu ao longo de mais de dois anos de pandemia, diria que é expectável um aumento da incidência a partir do outono”, adiantou à agência Lusa o especialista do Instituto de Medicina Molecular (iMM) da Universidade de Lisboa.
De acordo com o professor da Faculdade de Medicina de Lisboa, após o verão, o regresso às aulas e aos locais de trabalho e a adoção de um estilo de vida mais concentrado em espaços fechados “determina um contexto mais favorável aos contágios”.
“O próprio tempo frio e o seu impacto nas vias respiratórias talvez favoreça também que se instale a doença, embora este ponto não seja consensual”, referiu Miguel Castanho, ao salientar que, independentemente das razões, a sazonalidade das doenças causadas por vírus respiratórios em Portugal, com aumentos de incidência no período de outono-inverno, “está bem estabelecida”.
De acordo com o relatório de hoje do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), o índice de transmissibilidade (Rt) do SARS-CoV-2 subiu para 1,02 a nível nacional, depois de ter estado abaixo do limiar de 1 desde o final de maio.
A média diária de casos de infeção a cinco dias também subiu ligeiramente a nível nacional, passando dos 2.716 casos para os 2.769, mas continua a registar um dos valores mais baixos do ano para este indicador.
Relativamente ao comportamento futuro do SARS-CoV-2, que pode levar ao surgimento de novas variantes, Miguel Castanho considerou que esse coronavírus continuará a evoluir, mas o “ritmo dessa evolução pode decrescer”.
“A tendência natural do vírus é que continuem a aparecer variantes e a possibilidade de, ao acaso, uma delas se tornar mais contagiosa pode sempre acontecer”, reconheceu Miguel Castanho, para quem, nesta fase da covid-19, existem alguns aspetos a considerar em relação ao previsível comportamento do SARS-CoV-2.
O primeiro é que, com o aparecimento de novas variantes sucessivas cada vez mais transmissíveis, se vai tornando mais difícil aparecer uma variante que “bata o recorde da transmissibilidade da anterior”, explicou o investigador.
“Quer seja porque a variante Ómicron, sobretudo as subvariantes BA.4 e BA.5, já têm uma transmissibilidade elevada difícil de superar, quer devido ao efeito global da vacinação, o aparecimento de novas variantes terá tendência a desacelerar”, disse Miguel Castanho.
O especialista sublinhou ser ainda cedo para assegurar que o vírus está com um comportamento mais “estável”, mas considerou “legítima” a expectativa que isso se venha a confirmar.
Quanto à imunização com as vacinas atuais, Miguel Castanho salientou que “está provado” que o seu uso continua a ser eficaz contra casos mais grave de doença e morte, embora considerando que, como era expectável, eficácia tenha decrescido um pouco.
Sobre as vacinas adaptadas às variantes mais recentes, cuja autorização para a sua utilização está em curso em vários países, o investigador do iMM avançou que a sua “segurança não deve ser afetada”, mas sublinhou ser ainda cedo para uma conclusão sobre a sua eficácia, tendo em conta que os “resultados não estão totalmente disponíveis”.
A Agência Europeia do Medicamento (EMA) pode vir a aprovar no outono uma vacina para a covid-19 do laboratório Pfizer contra as linhagens BA.4 e BA.5 da variante Ómicron do coronavírus SARS-CoV-2.
“A EMA espera receber um pedido [de aprovação] para a vacina adaptada à BA.4/5 desenvolvida por Pfizer/BioNTech que será avaliado para uma potencial aprovação rápida no outono”, indicou recentemente um porta-voz do regulador europeu citado pela agência noticiosa AFP.
Em Portugal, a linhagem BA.5 da variante Ómicron é dominante, sendo responsável por 94% dos casos de infeção pelo SARS-CoV-2.
LUSA/HN
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