“Estou bem a par da importância de uma equipa multidisciplinar com fisiatra, terapeuta ocupacional, terapeuta da fala e outros profissionais também quando se fala de cuidados paliativos. Erradamente, muita gente relaciona cuidados paliativos à ausência de reabilitação”, desabafou o investigador da FMUP.
Os dados recolhidos por José Vítor Gonçalves mostram que o perfil das pessoas internadas em cuidados paliativos em Portugal corresponde a homens e mulheres de todo o país, com 73 anos em média (dos 7 e os 102 anos), sobretudo com doença oncológica do cólon, traqueia, brônquios e pulmão e mama, maioritariamente casados e com a antiga 4.ª classe/6.º ano do Ensino Básico.
O trabalho tinha como objetivo caracterizar os doentes admitidos na Rede Nacional de Cuidados Paliativos, de forma a permitir, no futuro, a identificação e orientação precoces das pessoas que necessitam deste tipo de cuidados.
O investigador analisou registos de doentes que ingressaram na Rede entre 2015 e 2020, num total de 11.207 doentes.
A patologia mais frequente como causa do internamento foi a neoplasia do cólon (7,7%).
A hipertensão e a diabetes mellitus foram as doenças associadas mais comuns.
“Com uma população cada vez mais envelhecida, no futuro, Portugal necessitará, indubitavelmente, de apostar neste tipo de cuidados para responder aos desafios demográficos das próximas décadas. Nesse sentido, a caracterização dos doentes da Rede Nacional de Cuidados Paliativos necessita de ser aperfeiçoada e aprimorada”, avisa José Vítor Gonçalves.
Em entrevista à agência Lusa no Dia Mundial dos Cuidados Continuados, o também fisiatra no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E) avançou que as conclusões do estudo serão encaminhadas para a Direção-Executiva do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS) liderada por Fernando Araújo.
“Acho que o planeamento em saúde é fundamental. Só conseguimos planear as respostas com base em dados reais. Acho que este estudo tem a mais-valia de mostrar o que está a acontecer no terreno (…). O trabalho que eu fiz enfrentou muitas dificuldades por ausência de informação. Acho muito importante partilhar resultados com quem está a gerir o SNS, ainda mais quando esta semana foram publicados os estatutos da DE-SNS”, apontou.
Para o autor, “será também impossível ajustar e orientar o perfil de resposta da Rede Nacional de Cuidados Paliativos sem que sejam determinadas as necessidades do país”.
No caso das patologias oncológicas, a fadiga, os problemas cognitivos, as restrições da amplitude de movimento e as disfunções vesico-esfincterianas estão entre as principais queixas.
Já em patologias não oncológicas, como é o caso da doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) ou da insuficiência cardíaca, as queixas mais referidas são fadiga, dispneia e baixa tolerância ao esforço.
José Vítor Gonçalves refere-se em particular às necessidades em Medicina Física e Reabilitação em Cuidados Paliativos, que permite “retardar o declínio funcional, com impacto para doentes e familiares/cuidadores”.
“Se a literatura é unânime em reforçar a importância de programas de reabilitação nos cuidados paliativos, a realidade é que a referenciação para este tipo de programas ainda é reduzida”, lamentou.
À Lusa, o investigador disse ser importante “sensibilizar os diferentes profissionais para a importância do registo adequado da informação clínica dos doentes nas diferentes plataformas informáticas”.
LUSA/HN
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