Doentes com cancro têm melhores resultados com tratamento menos intensivo

2 de Junho 2024

A redução de tratamentos em três tipos de cancro pode beneficiar os doentes sem comprometer resultados, segundo estudos clínicos apresentados na conferência mundial da Sociedade Americana de Oncologia Clínica.

Os estudos mais recentes, apresentados na conferência na cidade norte-americana de Chicago, envolveram o cancro do ovário e do esófago, além do linfoma de Hodgkin.

Em relação ao cancro nos ovários, investigadores franceses descobriram que é seguro evitar a remoção de gânglios linfáticos que parecem saudáveis durante a cirurgia para o cancro do ovário avançado.

Um estudo agora divulgado comparou os resultados de 379 pacientes – metade teve os seus gânglios linfáticos removidos e a outra metade não.

Após nove anos, não houve diferença no tempo de vida das pacientes e as que foram submetidas a uma cirurgia menos radical tiveram menos complicações, como a necessidade de transfusões de sangue.

Um outro estudo alemão analisou 438 pessoas com um tipo de cancro do esófago que pode ser tratado com cirurgia, tendo metade recebido um plano de tratamento comum que incluía quimioterapia e cirurgia ao esófago, que transporta os alimentos da garganta para o estômago. A restante metade recebeu outra abordagem que também inclui radiação.

Ambas as técnicas são consideradas padrão.

Segundo este estudo, após três anos, 57% dos pacientes que receberam quimioterapia e cirurgia estavam vivos, em comparação com 51% dos que receberam quimioterapia, cirurgia e radiação.

Uma comparação de dois regimes de quimioterapia para o linfoma de Hodgkin avançado revelou que o tratamento menos intensivo era mais eficaz para o cancro do sangue e causava menos efeitos secundários.

Ao fim de quatro anos, a quimioterapia menos agressiva manteve a doença sob controlo em 94% das pessoas, em comparação com 91% das que receberam o tratamento mais intenso.

O ensaio incluiu 1.482 pessoas em nove países – Alemanha, Áustria, Suíça, Países Baixos, Dinamarca, Suécia, Noruega, Austrália e Nova Zelândia – e foi financiado pela Takeda Oncology, o fabricante de um dos medicamentos utilizados na quimioterapia mais suave que foi estudada.

Estes estudos fazem parte de uma tendência a longo prazo para fazer-se menos – menos cirurgias, menos quimioterapia ou menos radiação – podendo ajudar os doentes a viver mais tempo e a sentirem-se melhor.

Há trinta anos, a investigação sobre o cancro consistia em fazer mais e não menos.

Num exemplo preocupante, de acordo com os médicos, mulheres com cancro da mama avançado foram levadas à beira da morte com doses maciças de quimioterapia e transplantes de medula óssea. No entanto, a abordagem não funcionou melhor do que a quimioterapia e as doentes sofreram.

Agora, numa tentativa de otimizar os cuidados oncológicos, os investigadores questionam se são necessários todos os tratamentos utilizados no passado.

É uma pergunta que “deve ser feita vezes sem conta”, disse a médica Tatjana Kolevska, diretora médica do Programa Nacional de Excelência do Cancro da Kaiser Permanente, que não esteve envolvida na nova investigação.

Muitas vezes, fazer menos produz resultados devido à melhoria dos medicamentos.

“A boa notícia é que o tratamento do cancro não só está a tornar-se mais eficaz, como está a tornar-se mais fácil de tolerar e associado a menos complicações a curto e a longo prazo”, afirmou, por seu turno, o médico William G. Nelson, da Johns Hopkins School of Medicine, que também não esteve envolvido na nova investigação.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Novos diagnósticos de VIH aumentam quase 12% na UE/EEE em 2023

 A taxa de novos diagnósticos de pessoas infetadas pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) cresceu 11,8% de 2022 para 2023 na União Europeia/Espaço Económico Europeu, que inclui a Noruega, a Islândia e o Liechtenstein, indica um relatório divulgado hoje.

Idade da reforma sobe para 66 anos e nove meses em 2026

A idade da reforma deverá subir para os 66 anos e nove meses em 2026, um aumento de dois meses face ao valor que será praticado em 2025, segundo os cálculos com base nos dados provisórios divulgados hoje pelo INE.

Revolução no Diagnóstico e Tratamento da Apneia do Sono em Portugal

A Dra. Paula Gonçalves Pinto, da Unidade Local de Saúde de Santa Maria, concorreu à 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH), com um projeto inovador para o diagnóstico e tratamento da Síndrome de Apneia Hipopneia do Sono (SAHS). O projeto “Innobics-SAHS” visa revolucionar a abordagem atual, reduzindo significativamente as listas de espera e melhorando a eficiência do processo através da integração de cuidados de saúde primários e hospitalares, suportada por uma plataforma digital. Esta iniciativa promete não só melhorar a qualidade de vida dos doentes, mas também otimizar os recursos do sistema de saúde

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Cerimónia de Abertura da 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde: Inovação e Excelência no Setor da Saúde Português

A Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH) realizou a cerimónia de abertura da 17ª edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, destacando a importância da inovação e excelência no setor da saúde em Portugal. O evento contou com a participação de representantes de várias entidades de saúde nacionais e regionais, reafirmando o compromisso com a melhoria contínua dos cuidados de saúde no país

Crescer em contacto com animais reduz o risco de alergias

As crianças que crescem com animais de estimação ou em ambientes de criação de animais têm menos probabilidade de desenvolver alergias, devido ao contacto precoce com bactérias anaeróbias comuns nas mucosas do corpo humano.

MAIS LIDAS

Share This