SNS com uma nova organização em 2024, mas com os mesmos problemas crónicos

12 de Dezembro 2024

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) arrancou em 2024 com um novo modelo de organização e funcionamento, mas as dificuldades crónicas mantiveram-se ao longo do ano, obrigando o Governo a avançar com medidas de emergência.

No início de abril, na sequência da entrada em funções do novo Governo, a farmacêutica Ana Paula Martins substituiu o médico Manuel Pizarro como ministra da Saúde e, antes do prazo prometido de 60 dias, apresentou o Plano de Emergência e Transformação na Saúde, composto por 54 medidas urgentes, prioritárias e estruturantes a implementar a curto, médio e longo prazo.

A recuperação das listas de espera cirúrgicas de doentes com cancro e a criação da linha SNS Grávida foram duas das medidas com resultados mais visíveis do plano, o qual não foi, porém, suficiente para resolver um dos problemas crónicos do SNS: os constrangimentos no funcionamento e o encerramento parcial de serviços de urgência por falta de médicos para completar as escalas de serviço.

À semelhança de anos anteriores, o verão de 2024 ficou marcado pela instabilidade nas urgências, principalmente nas de obstetrícia/ginecologia e pediatria, que levaram mesmo Ana Paula Martins a alertar que os gestores hospitalares tinham de garantir uma gestão eficaz dos recursos humanos, alegando que “não podia acontecer” o encerramento de 17 serviços como no último domingo de agosto.

A falta de médicos de família, outro dos problemas crónicos do SNS nos últimos anos, oscilou ao longo de 2024, passando das 1.647.700 pessoas sem um especialista de medicina geral e familiar atribuído em janeiro para os 1.566.436 utentes no final de outubro.

Ainda no que se refere aos médicos de família, o Governo aprovou em junho um decreto-lei que passou para as Unidades Locais de Saúde (ULS) a responsabilidade pelos concursos de novos especialistas, mas, perante atrasos que se verificaram nas colocações, recuou poucos meses depois e voltou a centralizar o recrutamento na Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS).

Já ao nível da organização, 2024 foi um ano de profundas mudanças no SNS, com a generalização no país de 39 ULS, cada uma a juntar numa gestão única os hospitais e os centros de saúde da sua área, e das Unidades de Saúde Familiar (USF) modelo B, em que os profissionais de saúde são remunerados também em função do seu desempenho. Este novo modelo de funcionamento levou à extinção das Administrações Regionais de Saúde (ARS).

Este ano o SNS assistiu também a mudanças em dirigentes de topo, desde logo na Direção Executiva, com a demissão em abril de Fernando Araújo, alegando que não queria ser obstáculo ao Governo nas políticas e nas medidas que considerasse necessárias implementar, e que foi substituído pelo médico militar António Gandra D´Almeida.

No início do verão, foi a vez do então presidente do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), Luís Meira, apresentar a demissão, por “quebra de confiança na atual tutela”, devido ao processo de contratação do serviço de helicópteros de emergência.

Para o lugar de Luís Meira, o Ministério da Saúde escolheu Vítor Almeida, mas o médico acabou por não aceitar o cargo dias depois. Perante essa recusa, foi nomeado interinamente o militar Sérgio Dias Janeiro, que teve de enfrentar, em novembro, uma crise que colocou em evidência a falta de recursos humanos no instituto.

Duas greves em simultâneo – da administração pública e dos técnicos do INEM às horas extraordinárias – levaram à paragem de dezenas de meios de socorro e a atrasos significativos no atendimento das chamadas para os Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU).

A ministra da Saúde chamou a si competência direta do instituto que estava delegada na secretária de Estado da Gestão da Saúde e Sérgio Janeiro considerou ter condições para se manter no cargo, apesar de ainda não serem conhecidos os inquéritos abertos às mortes alegadamente associadas a falhas no socorro do INEM.

A nível laboral, 2024 fica marcado por várias greves dos profissionais de saúde, que exigem a revisão das carreiras, a valorização salarial e medidas para reter a atrair profissionais para o SNS, outra das dificuldades crónicas do serviço, mas também por um acordo entre o ministério e uma plataforma de cinco sindicatos de enfermeiros, que prevê aumentos de 20% até 2027.

Nesta reta final, o SNS prepara-se para mais um teste à capacidade de resposta dos hospitais para enfrentarem o aumento da procura provocado pelas infeções respiratórias próprias do inverno, a que se junta um tradicional período de férias dos profissionais de saúde.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Saliva ativa coagulação em pessoas com hemofilia A

Um estudo recente liderado pela Universidade Médica de Viena revelou que a saliva contém vesículas especiais que desencadeiam a rápida coagulação do sangue em pacientes com hemofilia A. A investigação, publicada na revista científica “Blood”, oferece novas perspetivas sobre os mecanismos de coagulação nesta doença hereditária, contribuindo significativamente para uma melhor compreensão da patologia.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights