Investigação descobre proteína que ajuda a compreender falhas na divisão celular e aparecimento de tumores malignos

3 de Fevereiro 2025

Investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto descobriram uma proteína que ajuda a compreender a ocorrência de falhas no processo de divisão celular e o aparecimento de tumores malignos, foi hoje revelado.

Em comunicado, o instituto da Universidade do Porto esclarece que a investigação, publicada na revista científica EMBO Reports, analisou várias proteínas que regulam a interação entre as células epiteliais, que revestem a superfície dos órgãos, e o seu ambiente.

“Tendo em conta que a maior parte das células epiteliais não estão isoladas e aderem continuadamente às células vizinhas, ao mesmo tempo que são sustentadas por uma matriz extracelular, pareceu-nos fundamental perceber qual o impacto dessas interações com o ambiente na capacidade de uma célula se dividir”, esclarece Eurico Morais de Sá, que liderou a investigação.

A equipa descobriu que várias proteínas que asseguram a coesão entre as células vizinhas e a ligação à matriz extracelular promovem a eficiência da fase final da divisão celular, designada citocinese.

Uma dessas proteínas, a Distrofina, que normalmente é associada à distrofia muscular, “tem um papel até então desconhecido”.

Citada no comunicado, a primeira autora do artigo, Margarida Gonçalves, esclarece que a Distrofina assegura “a eficiência da citocinese em tecidos epiteliais”.

Para analisar a divisão celular no tecido epitelial os investigadores recorreram à mosca da fruta, uma vez que, nestes tecidos, “as células têm que conseguir dividir-se ao mesmo tempo que se mantêm fortemente unidas umas às outras”.

“Desenvolvemos um sistema de perturbação genética que nos permite interromper a função, ‘in vivo’ e em tecidos específicos, de cada um dos genes envolvidos na ligação entre células e nas suas interações com a matriz celular”, assinala Eurico Morais de Sá.

Tal permitiu à equipa perceber que existe “um conjunto de proteínas, conservadas desde a mosca até ao ser humano, que promovem a eficiência do processo”.

Apesar de a investigação ser focada em biologia fundamental poderá, a longo prazo, ter implicações na compreensão de doenças como o cancro.

“Quando uma célula falha o processo de divisão, gera erros que podem servir como ponto de partida para o desenvolvimento de tumores, e cada vez mais estudos têm demonstrado que a duplicação do genoma, fenómeno provocado por falhas em citocinese, é uma anormalidade genética frequentemente presente em células cancerígenas”, afirma Margarida Gonçalves.

E acrescenta, “sabendo que cerca de 90% dos tumores malignos têm origem em células epiteliais, torna-se particularmente relevante entender como é que o processo de divisão celular é assegurado neste tipo de contexto”.

A investigação, coordenada pelo grupo “Epithelial Polarity & Cell Division” do i3S, contou com a colaboração do Institut Curie, em Paris, e do Institut de Génétique, Reproduction et Développement (iGReD), em Clermont-Ferrand.

LUSA/HN

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Estudante do 2º ano do Curso de Especialização em Administração Hospitalar da ENSP NOVA; Vogal do Empreendedorismo e Parcerias da Associação de Estudantes da ENSP NOVA (AEENSP-NOVA); Mestre em Enfermagem Médico-cirúrgica; Enfermeiro especialista em Enfermagem Perioperatória na ULSEDV.

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